Gordofobia: como ajudar a combater?
Por Katlyn Mallet* A gordofobia é uma atitude normalizada na sociedade em que vivemos e, infelizmente, essa prática possui diversas formas de ser disseminada, das mais sutis até as mais agressivas. Este tema é cada vez mais discutido por pessoas gordas, em busca de uma sociedade mais justa com toda a variedade de corpos que existem, afinal, todos temos o direito ao respeito. Para refletir mais sobre isso, a MindMiners conversou com 1.000 pessoas de todos os gêneros, idades, classes sociais e regiões do Brasil para entender mais sobre a gordofobia, como ela é disseminada em nossa sociedade, e as situações que pessoas gordas já enfrentaram por conta disso. Comportamentos enraizados Sozinho, o peso não é um indicativo para sinalizar doenças ou falta de saúde. Mesmo assim, essa crença é comumente replicada, fazendo com que os casos de preconceito contra pessoas gordas no Brasil cresçam cada vez mais. Quando questionamos todos os respondentes, sendo eles gordos ou não, 81% declara que já ouviu falar sobre gordofobia. Isso significa que a maioria está ciente a respeito do termo, mas será que essa consciência também se aplica nas práticas do cotidiano? 62% já usou algum termo, frase ou ditado gordofóbico. Alguns dos termos e frases citados foram: Olho gordo (32%); Hoje é dia de gordice (25%) e Pensamento de gordo (22%). Cientes de que esses termos são gordofóbicos, 69% declara que deixaria de usá-los e iria em busca de substitutos. Como todos esses comportamentos podem se desdobrar no cotidiano de pessoas gordas? As variações, infelizmente, são diversas. 19% dos respondentes desta pesquisa são considerados pessoas gordas, e com base em suas respostas conseguimos entender um pouco mais esse cenário. Na pele… Os contextos em que a gordofobia se encaixa são vastos, indo da vida social até o cenário da saúde. Analisando experiências mais gerais, conseguimos ver o quanto a gordofobia afeta a vida de pessoas gordas, e como é importante que esses hábitos sejam excluídos para que possamos evoluir como sociedade e garantir o bem-estar de todas as pessoas. 51% já foi alvo de gordofobia em contextos de vida social, podendo incluir relações amorosas, de amizade, familiares, etc. E se engana quem pensa que a gordofobia acontece com mais frequência nesses cenários de relacionamentos mais próximos, a extensão desse comportamento para a vida profissional também é bastante significativa e 35% declara que já foi alvo de gordofobia no ambiente de trabalho. Além disso, 33% das pessoas gordas declararam que já receberam comentários não solicitados sobre seus pesos e forma física. 34% optou por não responder essa questão e 33% declararam que isso nunca aconteceu com eles. Este fator é muito mais profundo e explicativo quando pensamos na pressão estética que rodeia a nossa sociedade e como fugir – mesmo que minimamente – dele pode gerar um enorme ciclo de cobrança para se encaixar no padrão estético, o que é extremamente prejudicial para a saúde mental e física. E as marcas? Sabemos que 74% das pessoas concordam que as empresas têm obrigação de terem produtos adaptados e/ou pensados para pessoas gordas sem cobrar a mais por isso, e isso se aplica de companhias de transporte até a marcas de roupas. Quando se tem em mente as marcas mais lembradas quando o assunto diz respeito a corpos fora do padrão, as que ganham a mente dos respondentes são Natura, Dove e Avon! Além disso, 71% das pessoas concordam que empresas de todos os segmentos deveriam repensar o padrão de modelos e atores que utilizam em seus anúncios e 76% afirma que essa questão de diversidade de corpos deveria ser ainda mais presente nos anúncios e comerciais de marcas do setor de moda e beleza. Agora que entendemos um pouco mais sobre como a gordofobia possui suas raízes em todos os contextos que vivemos e deve ser debatida e combatida por todos, você já consegue pensar em como o seu negócio pode colaborar com essa causa? Texto publicado originalmente no Blog da MindMiners. *Analista de marketing da MindMiners.
A escravidão que sustenta as casas abandonadas
Um podcast trouxe de volta ao centro das discussões um tema que assombra o Brasil por séculos, a escravidão. “A Mulher da Casa Abandonada” é um conteúdo da Folha de S.Paulo, apresentado pelo jornalista Chico Felitti e narra a história de Margarida Bonetti, mulher que mora em uma casa abandonada, depois de ter mantido uma trabalhadora brasileira em trabalho escravo por 20 anos nos EUA. A história contada parece absurda, ainda mais se pensarmos que ela aconteceu há pouco mais de duas décadas e envolve pessoas com instrução e da chamada “alta sociedade brasileira”. Porém, apesar de real, o acontecimento expõe muito sobre as relações de trabalho aqui no Brasil. Casos como esse foram relevantes para a ONU colocar na lista de Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, um ponto exclusivo para as relações de trabalho, o ODS 8 – Trabalho decente e crescimento econômico. Entre as metas desse objetivo tem uma específica para combater o trabalho escravo e análogo a escravidão: Meta 8.7 – Tomar medidas imediatas e eficazes para erradicar o trabalho forçado, acabar com a escravidão moderna e o tráfico de pessoas, e assegurar a proibição e eliminação das piores formas de trabalho infantil, incluindo recrutamento e utilização de crianças-soldado, e até 2025 acabar com o trabalho infantil em todas as suas formas. Ouça o episódio do Planeta CIVI-CO sobre ODS 8 Segundo dados do Ministério do Trabalho, nosso país registra o maior número de casos de trabalho análogo à escravidão desde 2013. A fiscalização do trabalho resgatou 1.726 pessoas em 169 casos de trabalho análogo à escravidão em 2021, o maior já registrado desde 2013, quando se contabilizou 170 casos. Só em 2022, mais de 500 pessoas já foram resgatadas no Brasil. Mas por que casos como esses, mesmo sendo amplamente divulgados pela mídia e com repercussão internacional, caem no esquecimento popular e precisam ser constantemente revisitados? “Ela era da família” A resposta é simples, porque nossa sociedade vem tratando essa relações trabalhistas de forma banal. Histórias como essa da Margarida Bonetti se multiplicam no nosso país e não são exclusivas das famílias de alto poder aquisitivo. Dentro de muitos lares brasileiros, inclusive os de classe média, esse cenário se reproduz. Mesmo longe das agressões e atrocidades, nessas relações trabalhistas são oferecidas condições mínimas para a dignidade humana, como alimentação e moradia precários, em troca de trabalho doméstico. Esse recorte de gênero, raça e economia traça um perfil das pessoas que são vítimas nesses casos, em sua maioria mulheres negras e em situação de vulnerabilidade econômica e social. A mesma parcela específica da população brasileira que vem sendo prejudicada desde os primórdios da escravização e que sustenta o sistema econômico por alguns séculos. Novas embalagens Tudo isso parece longe da nossa realidade. Uma sociedade que almeja alcançar modelos sustentáveis e instalar um novo capitalismo, mais justo e equilibrado, precisa discutir e reavaliar as relações trabalhistas onde a satisfação, qualidade de vida, distribuição de renda e produção possam andar lado a lado. Porém, mesmo com a adoção de métricas, como o ESG, esse modelo ainda desliza em velhas práticas que beiram a exploração e a desvalorização do trabalhador. Um exemplo disso é a relação injusta que os aplicativos de entrega e de transporte tem com os seus colaboradores. A chamada “uberização” dos cargos é um novo modelo de relações injustas e que só aumentam a desigualdade. Loft, Quinto Andar, Kavak, Vtex, Mercado Bitcoin… Além dos valores expressivos que essas empresas movimentam, elas têm outro fator em comum: em um curto espaço de tempo, todas anunciaram demissões em massa. Somente a Loft cortou 364 pessoas no início de julho. Outras 159 já haviam sido demitidas em abril. Somando os dois grupos, mais de 500 pessoas foram desligadas nos últimos quatro meses. Segundo levantamento do Layoffs Brasil, mais de 2 mil profissionais que trabalhavam em startups perderam seus empregos neste ano. Por trás dos números secos da estatística, surge o pouco cuidado das empresas com a responsabilidade social e governança dos negócios, dois pilares cruciais de avaliação de risco de negócio nas boas práticas ESG e que vão ao encontro com outra meta do ODS 8: Meta 8.8 – Proteger os direitos trabalhistas e promover ambientes de trabalho seguros e protegidos para todos os trabalhadores, incluindo os trabalhadores migrantes, em particular as mulheres migrantes, e pessoas em empregos precários. Quebrando correntes O caso de exploração envolvendo Margarida Bonetti pode ser chocante, mas está longe de ser o único. ALERTA SPOILER: a equipe do podcast “A Mulher da Casa Abandonada” encerra a temporada expondo histórias similares que aconteceram no passado recente em Minas Gerais, no Rio de Janeiro e na cidade de Santos (SP). É preciso repensar as relações trabalhistas, seja através do fortalecimento do sistema judiciário trabalhista, da cobrança por meio de métricas ESG ou até mesmo com ações concretas como o AppJusto, que se propõe a fazer uma melhor distribuição com entregadores. Promover urgentemente a criação de um modelo livre das explorações, sobretudo para a população que há anos sustenta a base do nosso sistema econômico e vem sofrendo com as mazelas desse modelo defasado.
Programa de bolsas incentiva pesquisas sobre economia e meio ambiente
Por Instituto Escolhas O Instituto Escolhas está com inscrições abertas para a sétima edição da Cátedra Escolhas de Economia e Meio Ambiente, único programa de bolsas do país com foco na inter-relação entre as ciências econômicas e a agenda socioambiental. Diante da importância ambiental e da sociobiodiversidade da Amazônia para o enfrentamento da crise climática e a escassez de economistas da região estudando questões pertinentes ao desenvolvimento socioeconômico e à sustentabilidade, o Edital de Seleção 2022 está focado em mestrandos(as) em Ciências Econômicas oriundos ou que estudem na Amazônia Legal, prioritariamente indígenas e afrodescendentes. A adoção do critério Amazônia Legal visa a descentralização da produção acadêmica e a valorização de pesquisadores e pesquisas desse território. As inscrições podem ser feitas até o dia 08 de agosto de 2022. Leia o edital A coordenadora de Projetos do Escolhas e responsável pelo programa, Patrícia Pinheiro, ressalta que a proposta da Cátedra é atuar na interface entre teorias e ferramentas econômicas e as questões socioambientais contemporâneas: “O objetivo é fomentar a atuação de profissionais nesse campo, assim como o desenvolvimento de pesquisas de excelência para subsidiar ações públicas e privadas relacionadas à transição para uma economia de baixo carbono.” Em sua sexta edição, a Cátedra foi direcionada para pesquisadores nascidos na Amazônia Legal, região com menor representatividade no programa. O primeiro bolsista foi o paraense Vitor Marinho, bacharel em Ciências Econômicas pela Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará e mestrando do Programa de Pós-graduação em Economia da Universidade Federal de Minas Gerais. A Cátedra Escolhas já concedeu 32 bolsas de mestrado e doutorado. Depoimentos “É um grande desafio conciliar esforços em torno da pesquisa de qualidade, das necessidades pessoais e do desenvolvimento profissional, e a bolsa é o melhor instrumento de apoio nesta fase.” Ludgero Barros, bolsista e doutorando da UFPA. “A bolsa de estudos foi essencial para minha dedicação integral ao mestrado e ao desenvolvimento da minha dissertação, que envolvia um tema interdisciplinar e complexo.” Gabriela Mota, mestre em Economia pela Esalq/USP. Policy Brief – Série Cátedra Com objetivo de permitir maior visibilidade aos textos acadêmicos produzidos pelos economistas bolsistas da Cátedra Escolhas de Economia e Meio Ambiente, o Escolhas lançou a série ”Policy Brief – Cátedra Escolhas”. Seu conteúdo elucida os assuntos relevantes à sociedade e que contribuem com a formulação e aperfeiçoamento de políticas públicas. As sete edições já publicadas abordam temas como a exportação e precificação da água na agropecuária, o custo da imobilidade urbana em São Paulo, os impactos do uso de GNV, o efeito das mudanças climáticas na produção agrícola, os impactos econômicos e regionais dos investimentos em geração de energia e duas abordagens distintas sobre os empregos verdes. Conheça todas as edições
Violência e as veias abertas da Amazônia
“Aqui fica somente a lembrança de um triste passado de dor, sofrimento e morte. Desculpem, eu estava sonhando quando escrevi esses acontecimentos que eu mesmo não verei”, trecho da carta para jovens do futuro, de Chico Mendes, ambientalista, seringueiro, símbolo da luta pela preservação da Amazônia e vítima da violência na região. Já sabemos que a Amazônia está sob ataque constante, mas existe um fato pouco comentado: as vidas das pessoas que moram lá e que lutam pela preservação do local também são alvos desse projeto de degradação. A região – que em boa parte é habitada e protegida pelos povos indígenas, indigenistas, ribeirinhos, ambientalistas e comunicadores – também é alvo de disputa do agronegócio e mineradores. Esse conflito violento e silencioso mancha nossa história e nosso território de sangue. “A questão do território foi e sempre será uma grande questão para os conflitos da Amazônia. A regularização fundiária é um instrumento essencial se a gente quiser falar de redução de conflitos. Por isso, hoje ainda vivemos esse recorde de assassinatos de trabalhadores e lideranças”, disse Ângela Mendes, filha de Chico Mendes e militante socioambiental, durante a gravação do nosso podcast “Planeta CIVI-CO”. Ouça o Planeta CIVI-CO #13 com Ângela Mendes. Violência em números O Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) publicou no dia 28 de julho o Anuário de Segurança Pública, com o ranking das 30 cidades mais violentas do país. Dessas, dez estão na Região Norte. O anuário também ressalta que, dentre as cidades brasileiras mais violentas, 13 estão na chamada Amazônia Legal, que inclui os seguintes estados: Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins e parte do Maranhão. Destas as cidades da Amazônia Legal, 11 são rurais, com pequenas populações que sofrem com a violência letal há pelo menos três anos seguidos (2019-2021), quando os índices do relatório foram calculados. Jacareacanga, no Pará, é o segundo município mais violento do país, atrás apenas de São João do Jaguaribe, no Ceará. Como no caso dos homicídios do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips, a região tem sofrido com um aumento na violência por grupos criminosos que desenvolvem atividades ilegais na região. Em relação ao resto do país, a taxa de violência letal na região é 38% superior, mostrando como ela se tornou endêmica na região. De acordo com o FBSP, no ano de 2021, enquanto todas as demais regiões do país apresentaram queda, mesmo que tímida, do registro de mortes violentas, a área composta por estados que integram a Amazônia Legal segue na contramão do resto do país, com crescimento de 7,9% da taxa de Mortes Violentas Intencionais. Nas cidades com população urbana com mais de 50 mil habitantes, a violência letal na Amazônia é 47,9% superior à média nacional em relação aos municípios com essa mesma população. Violência institucionalizada Além dessa forma de violência explícita, a população dessa região sofre com outras formas de impacto negativo. Muitos desses males acontecem por conta do descaso do poder público nessas localidades. Os habitantes dessas regiões enfrentam problemas como falta de acesso à saúde, transporte, segurança pública e educação. “Muitas crianças morreram e ainda morrem por falta de acesso, existem comunidades muito distantes que não conseguem ter um acesso fácil para atendimento de saúde”, disse Ângela Mendes. Além disso, algumas propostas e leis, na maioria sugeridas pela bancada ruralista, acabam piorando a qualidade de vida dessas comunidades e colocando em risco todo o ecossistema dessas áreas de preservação. Um exemplo é a PL 191, que propõe permitir a mineração em terras indígenas e também o Marco Temporal, uma tese jurídica que defende uma alteração na política de demarcação de terras indígenas no Brasil. Violência judicial Mesmo em uma realidade comprovada por dados, muitas vidas inocentes ainda não são respeitadas e se tornam apenas números e estatísticas, já que a justiça na região também é lenta e pouco efetiva. A organização não governamental Human Rights Watch (Observatório dos Direitos Humanos, na tradução em português) denunciou em debate na Câmara a morte de mais de 300 defensores da Amazônia e dos povos indígenas nos últimos dez anos. Desses casos, apenas 14 foram julgados. Dos 28 assassinatos examinados mais detidamente pela Human Rights Watch, apenas dois foram julgados. E dos mais de 40 casos de ameaças, nenhum foi a julgamento.
É possível “consertar” a economia de plataforma: entrevista com Rogério Nogueira
Entregadores protestam por melhores condições de trabalho e muitos restaurantes fecham as portas por conta do cenário econômico e taxas abusivas. Esta é a realidade do delivery atual, na qual todas partes se vêem submissas ao que é imposto devido a desproporção nas relações de poder que o monopólio permite. Nesta entrevista concedida ao CIVI-CO, Rogério Nogueira (conhecido como “Rog”) contextualiza sobre o que é o modelo de economia de plataforma e como um grupo de amigos junto a voluntários, restaurantes e entregadores construíram o AppJusto, uma alternativa de delivery que é “bom para todos” . O que é a economia de plataforma? A economia de plataforma (em inglês, gig-economy) ou, de maneira mais informal, “economia dos bicos”, é um modelo de negócios com plataformas digitais que assumem o papel de intermediadores entre quem oferta um bem ou serviço e quem os consome. Alguns exemplos conhecidos são: AirBnb, Mercado Livre, Getninjas, Parafuso, Uber, 99 e iFood. Atualmente estas plataformas digitais são fonte de renda para 32,4 milhões de autônomos no Brasil, sendo só 4,53 milhões nos aplicativos de transporte e entrega. Mas o que há de errado neste modelo? Existem dois aspectos principais que precisam ser observados, pois contribuem para a desigualdade social e são um risco para o futuro do trabalho. O primeiro é que há dois tipos de plataformas, as que tem transparência e autonomia (onde o profissional autônomo ou negócio definem suas próprias condições de trabalho e remuneração) e as que não têm (com exemplo do modelo de “motoristas de aplicativo” e “delivery”, onde as regras dos algoritmos não são transparentes e os trabalhadores não definem sua própria remuneração) O segundo aspecto é o monopólio que algumas empresas de tecnologia conquistaram. Monopólio é algo ruim para sociedade em qualquer segmento, porque desequilibra as relações de poder e permite que quem domina imponha as condições que quiser – e é o consumidor final quem paga esta conta. Nosso propósito é “consertar a gig-economy”, que é exatamente ser uma alternativa que traga equilíbrio ao mercado com maiores ganhos para as partes, assim contribuímos para o ODS 8 – Trabalho decente e crescimento econômico e ODS 10 – Redução das desigualdades. Ao mesmo tempo que evitamos que a gig-economy se torne uma terra sem lei, dominada por empreendedores e fundos de investimento com mentalidade “winner takes all”, evitamos também que tal pensamento se alastre para outros segmentos. Com isso, atuamos para que a instrumentalização e desqualificação de pessoas capazes não se torne uma opção de trabalho para as gerações futuras. E no delivery, que é onde vocês atuam, como acontece este desequilíbrio? O brasileiro gostou da praticidade e da variedade de restaurantes com agilidade e alta capilaridade dos aplicativos, utilizando-se de um pool compartilhado de entregadores que, em grande parte, viram nessa alternativa de trabalho uma solução para uma crescente alta de desemprego desde 2016. Diante desta demanda e do enorme influxo de mão de obra disponível, as plataformas se utilizam de algoritmos para potencializar seus ganhos cobrando o máximo aceitável pelo consumidor, ao mesmo tempo que paga o mínimo possível de frete. Essa perversa equação, que inicialmente parecia vantajosa para consumidores que se acostumaram com cupons e a taxas de entrega baixas, atualmente se aproveita do poder conquistado a custo de jornadas de trabalho cada vez mais longas a serem cumpridas pelos “motoboys”. Os entregadores estão sob a subordinação de práticas de scores e bloqueios automáticos que tiram o direito de trabalhar e ganhar seus sustentos sem chance de defesas. Os restaurantes, por sua vez, que viram o delivery por aplicativos como apenas um canal de vendas adicional, acabaram por vivenciar, nessa digitalização potencializada pela pandemia, a crescente demanda dos clientes por entregas a domicílio. E com desequilíbrio nas relações de poder pela falta de alternativas, deu margem para que as plataformas definissem taxas e regras que visam exclusivamente seus interesses próprios. Algumas delas com taxas chegando a quase 30% do valor total de uma venda. Vivenciando uma espécie de Síndrome de Estocolmo, os restaurantes, em troca de maior visibilidade e melhor rankeamento dentro do marketplace das plataformas, são coagidos a sustentar um perverso ciclo vicioso, subsidiando fretes grátis e/ou cupons de desconto, numa política insustentável de “fidelização” dos clientes, que agora nem são mais seus. Como o AppJusto resolve isso? AppJusto é um negócio social com código fonte livre. Nossa missão é oferecer equilíbrio ao setor através de um modelo baseado em relações mais justas e transparentes entre todos os envolvidos. A plataforma foi construída durante a pandemia junto a restaurantes, entregadores e voluntários que tiveram total influência da definição das regras da plataforma para que fosse “bom para todos”. Oferecemos um modelo de mercado que é equivalente a um marketplace de restaurantes com logística integrada, só que praticamos a menor comissão do mercado para restaurantes e não ficamos com absolutamente nada do valor do frete para os entregadores. As vantagens não são apenas para entregadores e restaurantes: partindo de uma taxa de apenas 7,21% (5% de comissão e 2,21% da transação por cartão), os restaurantes repassam preços menores para seus consumidores, que chegam a pagar até 30% menos nos pratos em relação ao que praticam em plataformas concorrentes. No AppJusto, os entregadores se organizam para definir as próprias condições do serviço e não temos score. Esses profissionais são autônomos de verdade, trabalham quando podem e pegam somente os serviços que querem. Onde vocês estão operando? Qual o estágio da SocialTech? Lançamos o AppJusto em agosto de 2020. Já nos primeiros meses de operação decidimos ganhar maturidade e qualidade e criar a cultura de operar de maneira ágil e enxuta, antes de crescer. Precisávamos também validar que a plataforma e vantagens eram claras o suficientes para gerar um efeito rede e potencializar um crescimento sustentável. Também tínhamos o objetivo de medir nosso impacto social, que neste primeiro momento ficou centralizado no impacto social financeiro. Com uma equipe e voluntários competentes e com muito propósito, tivemos êxito em todas estas validações. Organicamente, já temos 15 mil entregadores cadastrados,
Voto em Preto: impulsionando candidaturas afrocentradas
O Brasil vive em um espelho invertido. O país que vota não é o mesmo que governa. Você se vê refletido e representado quando assiste noticiário sobre política? Ou então quando aperta o verde na urna? É difícil se identificar, pois em um país tão diverso culturalmente e etnicamente, apenas 24% (124 dos 513 deputados/as) são afro-brasileiros/as. No Senado Federal, a proporção é ainda menor: 16% (13 dos 81 senadores/as). Vamos mudar esta realidade? Nossas escolhas têm esse poder! Por isso, estamos convocando brasileiros e brasileiras para uma ação transformadora! Faça parte da campanha #VotoEmPreto. APOIE ESTA CAUSA! A informação é uma aliada A proposta é criar uma plataforma de comunicação utilizando site e as redes sociais (Instagram, Twitter, TikTok e Facebook) para impulsionar as candidaturas de homens e mulheres negros/as, nas eleições de 2022. Esse trabalho tem o objetivo de fazer ampla divulgação dos(as) candidatos(as) aos cargos em disputa: Presidência da República, Governo Estadual, Senado Federal, Câmara Federal e Câmara Estadual, nas 27 Unidades da Federação. O movimento #VotoEmPreto, liderado pelo professor Helio Santos, presidente do Conselho Deliberativo da Oxfam Brasil, já encontra eco em diversos segmentos da sociedade brasileira. São homens e mulheres brancos ou negros que entendem a necessidade de Políticas de Reparação, Ações Afirmativas e Propostas de Equidade Racial. De que lado “os sinos dobram” na política? Ampliar a representatividade de afrodescendentes nos espaços de poder, notadamente no Parlamento, é visto como uma forma de acelerar a elaboração e implantação de políticas públicas destinadas a reduzir o fosso que separa os brasileiros afrodescendentes dos demais. É crucial entender que a pobreza, o analfabetismo, o desemprego, a violência policial e o encarceramento em massa, no Brasil, possuem cor e CEP bastante específicos. Esses recortes não são fruto do acaso. Eles acontecem no bojo do que se convencionou chamar de Racismo Institucional. O que você ganha? Além da construção de um Brasil mais justo e igualitário, ajudar a nossa causa irá te dar acesso a todo conteúdo criado pela plataforma, evitando a desinformação e as fakes news. Sabemos que sozinhos não seremos capazes de atingir o objetivo. Por isso, contamos com o apoio de todos(as), seja doando ou compartilhando o link da campanha para que possa chegar a mais pessoas. Acesse aqui para doar: https://www.kickante.com.br/financiamento-coletivo/voto-em-preto-impulsionando-candidaturas-de-homens-e-mulheres-afro-brasileirosas Afinal, para acelerar a equidade racial e a promoção social da esmagadora maioria dos brasileiros e brasileiras não basta não ser racista. É preciso ser antirracista. Vem com a gente e apoie esta causa! Leia mais sobre o tema neste conteúdo protagonizado pelo professor Helio Santos, idealizador da campanha: https://www.geledes.org.br/vidas-negras-importam-de-fato-no-brasil/
Calcinha menstrual biodegradável: de olho na lavagem verde
Por Herself Faça um exercício: observe o objeto mais próximo de você. Pode ser um copo, uma garrafa ou uma peça de roupa. Agora imagine que esse produto é “biodegradável”. É provável que você associe isso a algo positivo, ecologicamente correto, sustentável, certo? Mas que tal se perguntar: como essa peça vai de fato se degradar? Ela vai chegar em um aterro sanitário ou em um lixão? Quais condições ela terá para isso? Por que consumir esse produto me proporciona um “alívio” em relação à sustentabilidade? Bom, talvez você não saiba muito bem como responder essas perguntas. E tudo bem. Mas precisamos assumir: estamos longe de mensurar os impactos do que consumimos ou entender que o tema da sustentabilidade é mais complexo do que pensamos. Já que os objetos saírem de nossa vista, mesmo tendo um “título de sustentabilidade”, nos garante pouca coisa. Então vem entender um pouco mais sobre o assunto e por quê não aderimos aos tecidos biodegradáveis em nossas calcinhas e biquínis menstruais 🙂 O que são biodegradáveis? A biodegradação é o processo de desintegração de uma matéria por microrganismos. Quando falamos sobre peças de vestuário, tecidos sintéticos não se decompõem porque os microrganismos carecem de enzimas para realizar a decomposição. No caso de tecidos naturais, como algodão e lã, em que a origem da matéria-prima é natural vegetal ou natural animal, as peças se decompõem de forma mais simples. Só que isso ocorre apenas em condições adequadas: o oxigênio é essencial para a degradação. Em aterros sanitários esse processo não acontece. Aliás, já confere aqui a entrevista da Marina Colerato, editora do Modefica, para o Menos 1 Lixo, explicando essa diferença. Por outro lado, há uma nova tecnologia em relação à biodegradabilidade. Um fio de poliamida – fio sintético – que possui componentes químicos que aceleram a degradação daquele tecido, feito especialmente para as condições do aterro sanitário. No entanto, o tema do impacto de tecidos é muuuito mais complicado do que imaginamos. Para que uma roupa realmente se degrade, existem vários fatores, como ela não ser composta com outro tipo de tecido, por exemplo. Para as pesquisadoras Kate Fletcher e Lynda Grose no livro “Moda & Sustentabilidade: Design para mudança” (2011) existem vários desafios para fibras biodegradáveis: A criação de peças de vestuário totalmente biodegradáveis, em que todas as fibras e partes componentes decompõem-se de forma completa e segura; O desenvolvimento de infraestrutura adequada para para coletar e processar fibras degradáveis por compostagem; A disponibilização de informações mais precisas e a identificação das fibras biodegradáveis, especificando métodos de compostagem e diferenças em relação à sintéticos não degradáveis e degradáveis derivados de petróleo. Ufa, muitas questões, não é mesmo? Aterro sanitário x Lixão Falando em aterros sanitários, é necessário distinguir a diferença entre aterro e lixão. Os lixões são espaços ilegais que foram tomados por resíduos. Nesses lugares, não há nenhum tratamento do lixo, o que gera danos ao meio ambiente e à saúde pública. Os aterros, por sua vez, são espaços projetados para receber o lixo que não pode ser reciclado. É distante de rios, mares ou de habitação, separam os resíduos do solo e controlam a emissão de gases de efeito estufa. Desde 2014, com a Lei Federal (12.305/2010) da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), todo município precisa garantir aterros sanitários para gerir os resíduos da sua cidade. No entanto, mais da metade das cidades brasileiras ainda destinam incorretamente seus resíduos para lixões, por falta de estrutura ou orçamento para destiná-los corretamente. Sendo assim, projetar roupas com tecidos que vão se “degradar” no ambiente – como uma “calcinha menstrual biodegradável” – não garante que a roupa de fato vai chegar no espaço apropriado. E, ainda, transfere a responsabilidade somente para o consumidor, num país que ainda tem sérios problemas em gerir seus resíduos. De olho na lavagem verde Além disso, precisamos falar sobre a “lavagem verde” (greenwashing, em inglês). Uma prática comum, onde empresas vendem um discurso socioambiental que não condiz com a realidade para obter mais lucro. No cenário de colapso climático em que vivemos, é normal buscarmos pequenas ações para “fazer a nossa parte”, né? Apesar disso, não podemos acreditar que uma única solução – como um produto – resolva uma questão pública tão abrangente. Por isso, nossa dica é: fique atenta(o) aos discursos rasos e a quem promete soluções fáceis para problemas complexos. Aqui dentro queremos que cada pessoa da nossa rede veja a situação de forma transparente: fazemos muito para mudar a realidade, mas nunca seremos a marca mais sustentável. Na verdade, nos comprometemos como negócio de impacto a gerar mais possibilidades e acesso a todas as pessoas menstruantes. Esse é o nosso maior comprometimento. Aliás, vem aqui entender melhor nossas ações rumo à sustentabilidade. Promover dignidade menstrual para alcançar equidade de gênero, ter uma equipe diversa e estimular a diminuição de descartáveis são pontos chaves para essa discussão. Qual a melhor solução para o descarte das nossas calcinhas, então? Assumindo que não salvaremos o mundo, nos propomos a estudar, pesquisar e ter participação ativa para uma solução adequada para o fim de vida útil das nossas peças. Em abril de 2019, participamos do movimento global Fashion Revolution, num bate papo sobre o destino de peças íntimas no Brasil. A falta de uma solução efetiva é geral, já que não existe uma reciclagem de têxteis hoje no país. Desde então, passamos a investir na educação. Nossas calcinhas menstruais podem durar por longos anos. Depois do período para a menstruação, ela ainda pode ser uma peça do dia a dia. Arriscamos dizer que ela pode te acompanhar cerca de uns 5 anos, viu? Além do mais, estamos numa fase de pesquisa para um novo projeto – recolher os nossos produtos para testar a reciclagem ou o desmanche para uma nova vida útil, dentro de uma lógica de economia circular. Essa ação está alinhada com a Política Nacional de Resíduos Sólidos que falamos ali em cima, que prevê que toda entidade pública ou privada precisa se responsabilizar pelo que coloca
Pesquisa lança base de dados para ampliar negócios liderados por pessoas LGBTI+
Por Helen Faquineti e Lucas Bulgarelli* O Brasil segue nos rankings internacionais como um dos países mais desiguais do mundo. E ainda não é claro para grande parte das pessoas que a desigualdade vai além do aspecto meramente econômico e que tem causas estruturais, fundadas em um legado de discriminação social, racial, de orientação sexual e de gênero. É por isso que, quando falamos na necessidade de efetivar os direitos LGBTI+, não nos referimos apenas às leis e garantias conquistadas nos últimos anos. Estamos falando também sobre as condições de vida, de sustento e de geração de renda dessa população. Sabemos que a discriminação generalizada com base na orientação sexual, identidade de gênero, expressão de gênero e características sexuais desempenha um papel central na falta de oportunidades para as pessoas LGBTI+. Muitas vezes exilados de suas famílias, os recortes mais vulneráveis dessa população têm oportunidades de educação e emprego negadas. A exclusão de pessoas LGBTI+ do mercado de trabalho gera a busca por modos de sustento que se situam fora da lógica do emprego formal. Além disso, os efeitos econômicos da pandemia atingiram de forma mais intensa grupos minorizados da sociedade, o que gerou impactos significativos nos modelos de trabalho e geração de renda dessas camadas. Empreender é um caminho Para grande parcela de nossa população, o empreendedorismo significa a única oportunidade de inclusão produtiva. Segundo dados da Global Entrepreneurship Monitor (GEM), 43 milhões de brasileiros lideram seus próprios negócios e entre 80 a 90 milhões dependem diretamente dessas empresas. Seja por necessidade ou oportunidade, empreender no Brasil é um desafio imenso e os obstáculos tendem a ser maiores para determinados recortes da população. Fomentar o empreendedorismo entre a população LGBTI+ demanda identificar as disparidades de oportunidades e desafios colocadas para essas pessoas e endereçá-las adequadamente. É ainda preciso abrir espaço para adoção de abordagens interseccionais, reconhecendo que algumas sobreposições de identidade (por exemplo, pessoas LGBTI+ idosas) podem tornar o caminho do empreendedor ainda mais difícil. Liderança com diversidade Nessa jornada, temos ouvido a experiência de nossos beneficiários e parceiros e olhado para os poucos dados existentes, a fim de construir estratégias que ampliem o número de negócios liderados especificamente por pessoas LGBTI+. Também estamos atuando para a geração de novos dados que ajudem as outras organizações na implementação de iniciativas que fomentem empreendimentos liderados por pessoas LGBTI+. É o caso da Pesquisa Empreendedorismo LGBTI+ e Geração, que é coordenada pelo Instituto Mais Diversidade, com execução técnica do Instituto Matizes e patrocínio do Itaú. Por meio dessa iniciativa pretendemos traçar um diagnóstico do estado do empreendedorismo desempenhado por pessoas LGBTI+ de diferentes faixas etárias, com foco especial às pessoas 50+, e levando em consideração outros fatores como renda, gênero, raça e região. A pesquisa proporcionará bases para comparações estatísticas com outros levantamentos sobre empreendedorismo e seus resultados nos ajudarão a identificar as necessidades e elaborar recomendações para fomentar o empreendedorismo LGBTI+. Os resultados serão publicados agora em junho de 2022 e irão apoiar a produção de dados públicos sobre a população LGBTI+ brasileira, contribuindo para efetivação da diversidade e equidade em um dos maiores mecanismos de inclusão produtiva com o qual contamos. *Helen Faquinetti lidera o Instituto Mais Diversidade e Lucas Bulgarelli é diretor e fundador do Instituto Matizes.
O que tem no seu prato hoje?
Aproximadamente 33 milhões de brasileiros estão sem comida no prato. Se compararmos em números, a cidade mais populosa do país, São Paulo, tem cerca de 12 milhões de habitantes. Ou seja, hoje no Brasil uma população correspondente a quase 3 capitais paulistas não vai se alimentar corretamente. Em 2020, cerca de 9% dos lares brasileiros passavam fome. Já agora, no início de 2022, esse número aumentou para 15,5%. Isso quer dizer que, em um período de dois anos, 14 milhões de pessoas passaram a conviver com a fome no nosso país. Informação segura Esses dados são da segunda edição do Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil (II VIGISAN), desenvolvido pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (Rede PENSSAN). O Brasil foi referência internacional no combate à fome no início do século XXI. Hoje, com o desmonte de políticas públicas, a crise econômica e o aumento das desigualdades sociais, mais da metade (58,7%) da população está em situação de insegurança alimentar – quando uma pessoa não tem acesso regular e permanente a alimentos. Ao olhar para a fome é importante lembrar que os números representam pessoas. As mudanças em percentuais de insegurança alimentar – ainda que pareçam pequenas – significam milhões de pessoas convivendo cotidianamente com a fome. Nada para comemorar No último dia 07 de junho foi celebrado o Dia Mundial da Segurança dos Alimentos. Criada em 2018 pela Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU), a data tem como objetivo chamar a atenção e inspirar ações que ajudem a prevenir, detectar e gerenciar os riscos de origem alimentar, contribuindo para a segurança alimentar. Porém, desta vez a data se tornou mais simbólica. Com a apresentação destes dados de insegurança alimentar no Brasil, a nossa atual situação é a mais preocupante desde 2004. A insegurança alimentar ocorre quando uma pessoa não tem acesso regular e permanente a alimentos. Ela é classificada em três níveis: Leve Incerteza quanto ao acesso a alimentos em um futuro próximo e/ou quando a qualidade da alimentação já está comprometida. Moderada Quantidade insuficiente de alimentos. Grave Privação no consumo de alimentos e fome. Obviamente toda uma conjuntura estrutural acentuada pela pandemia do coronavírus, que causou o aumento do desemprego e da pobreza no mundo, contribuíram para estes resultados. Infelizmente, essa situação pode piorar, principalmente para as populações em vulnerabilidade. Gilson Rodrigues, fundador do G10 Favelas e que diariamente faz distribuições de marmitas solidárias em Paraisópolis, lamentou nas redes sociais sobre a fome nas comunidades periféricas: “Eu gostaria tanto que isso realmente tivesse ficado no passado, mas, infelizmente, a história perdura e se repete todos os dias em nosso Pavilhão Social do G10 Favelas. A fila das marmitas solidárias só faz crescer embaixo dos nossos olhos e nos sentimos impotentes diante da situação porque, ao contrário da fila, as doações caíram e não conseguimos atender a todo mundo que chega até aqui com fome”. Influência global Com a guerra entre a Ucrânia e a Rússia longe de ter um desfecho, ambos os países deixaram de exportar trigo, milho e cevada, itens básicos da cadeia global de suprimentos. E já estamos sofrendo o efeito disso no bolso: no Brasil, o preço de itens como o pão já subiu mais de 20%. O custo dos alimentos no planeta teve um salto superior a 13% e chegou ao mais elevado patamar da história. A alimentação plant based tem se tornado uma possível solução para este cenário. Projetos de hortas comunitárias alimentam milhares de pessoas todos dias e substituem a proteína animal na mesa de muitos brasileiros com insegurança alimentar. O AgroFavela, projeto de hortas comunitárias realizado no galpão do G10 Favelas, beneficia diretamente 1.009 pessoas com o recebimento de hortaliças colhidas na horta, sendo 5.045 beneficiadas indiretamente. O projeto cultiva 60 espécies de hortaliças e frutas, em um espaço de mais de 900 m², que conta com uma horta vertical, vasos de plantas em boxes e canteiro. Alimentação canábica De acordo com Marcello Grecco, CMO do The Green Hub, o cânhamo é um superalimento para humanos. Isso sem contar com a possibilidade de milhares de aplicações em variados segmentos industriais, como têxtil, construção civil, de papel e celulose, entre outros. A produção de ração de aves e de gado seria mais nutritiva e eficiente do ponto de vista de rentabilidade se fosse enriquecida, por exemplo, com sementes ou farinha de cânhamo. O óleo de cânhamo é um excelente suplemento para rações. Ele é uma importante fonte de ácidos graxos essenciais. Já as sementes e bolos de semente de cânhamo contribuem, com larga vantagem, como fonte de gordura e proteína na dieta animal.
Nosso lixo tem impacto
Sabemos que quase sempre estamos aqui puxando a orelha e cobrando mais engajamento nas causas socioambientais, porém dessa vez vai ser diferente, estou aqui para elogiar toda nossa comunidade. Se você faz parte do nosso ecossistema de impacto está de parabéns! No mês de maio conseguimos reciclar 100% dos resíduos produzidos aqui! Ao todo, 227 sacos de lixo sólidos e orgânicos foram reaproveitados e se tornaram 81 kg de adubo orgânico, 98 kg de materiais reciclados e 98kwh de bioenergia. Os últimos dados enviados pela Musa, nossa parceira de coleta e reciclagem, ganham um peso maior nesta época, onde celebramos a Semana do Meio Ambiente. “É sério que na semana do Meio Ambiente você quer falar sobre lixo?!” Sim, seríssimo! Você já parou pra se perguntar para onde vai seu lixo? Ou você acredita que ele simplesmente some quando você coloca ele no cesto? Uma pena que ele não desapareça! E mesmo quando o lixo “evapora”, ele polui o nosso ar e a nossa água. E, assim, todos os dias vamos construindo diversas pirâmides gigantescas de lixo em todos os países do mundo. Responda rápido: qual a maior marca do homem deixada no Planeta? Você deve estar pensando “na roda, na agricultura, nos foguetes e satélites ou até mesmo nas gigantescas pirâmides no Egito ou México”. Sinto lhe dizer que você errou! Nosso maior legado aqui infelizmente é o lixo. É preciso repensar nossa relação com o lixo urgentemente ou, logo mais, todo meio ambiente que conhecemos estará tomado pelos resíduos produzidos por nós! Dando exemplo Todos os dias estamos aqui falando de impacto socioambiental, impacto positivo e sustentabilidade. Porém, o que nossa comunidade está propondo de soluções para o meio ambiente? Com relação ao lixo, temos uma parceria com a Musa, uma iniciativa de gestão de resíduos que utiliza a tecnologia de uma forma inovadora para garantir a subsistência econômica, social e ambiental do nosso planeta. Cada um de nós produz em média 1kg de resíduo por dia, você já parou para pensar para onde vai tudo isso? Somente no último mês, o CIVI-CO evitou de ocupar 1m³ em aterros sanitários, espaço correspondente a quatro geladeiras, que demorariam anos para se decompor e poluir o ar, o solo e a água. Já pensou se todos fizessem isso em casa também? #FICAADICA Então é só jogar o lixo na lixeira? Para que o lixo não seja um problema para a sociedade é necessário realizar o descarte correto. Atualmente a gestão de resíduos é feita através da reciclagem, compostagem, aterro sanitário ou incineração. É importante que os resíduos não sejam descartados incorretamente, que sejam levados para aterros sanitários ou submetidos aos processos anteriormente citados. Além disso, é necessário educar a sociedade sobre o lixo e seu impacto ambiental e a necessidade de reduzir o consumo de matérias primas e energia. Para a Musa, nossa parceira nessa luta, a preservação é: Uma questão de saúde A má tratativa do lixo gera contaminações invisíveis aos nossos olhos. Segundo a OMS, esses resíduos podem trazer a proliferação de vírus, bactérias e serem focos de vetores, como a dengue, entre outras doenças. Uma questão de futuro É preciso levar a sério a preservação de recursos naturais, o aquecimento global e as emissões de CO2 e metano decorrentes de um processo de gestão de resíduos sem reúso, onde o lixo acaba em aterros. Uma questão de economia Estima-se uma perda de mais de R$ 14 bilhões por ano em resíduos que poderiam retornar para o mercado a partir de processos de reciclagem, mas que acabam no meio ambiente ou em aterros e lixões. Uma questão legal Em 2010, o Brasil definiu uma política nacional focada em resíduos sólidos – Lei nº 12.305. Hoje já são mais de 15 leis que regulamentam e buscam garantir uma tratativa correta para o que chamamos de lixo. Uma musa inspiradora A Musa cria soluções para um dos maiores problemas do mundo: o lixo. É isso que nos conecta, um mundo sem desperdício onde tudo pode ser reutilizado. Juntos podemos transformar o mercado de gestão de resíduos a partir do uso inteligente da tecnologia e de uma nova forma de fazer negócio para que juntos possamos garantir a subsistência econômica, social e ambiental do nosso planeta. Atenção! Pensou que hoje não ia ter puxão de orelha, né?! Pensou errado! É importante lembrar que para conseguirmos esses números foi preciso todo um trabalho de preparação, educação e gestão em nossa comunidade. Por isso, vamos nos esforçar para repetir esses resultados positivos todos os meses. Colabore fazendo a sua parte e, em caso de dúvida, consulte nossa equipe.