Pesquisa lança base de dados para ampliar negócios liderados por pessoas LGBTI+

Pesquisa lança base de dados para ampliar negócios liderados por pessoas LGBTI+

Por Helen Faquineti e Lucas Bulgarelli*

O Brasil segue nos rankings internacionais como um dos países mais desiguais do mundo. E ainda não é claro para grande parte das pessoas que a desigualdade vai além do aspecto meramente econômico e que tem causas estruturais, fundadas em um legado de discriminação social, racial, de orientação sexual e de gênero. 

É por isso que, quando falamos na necessidade de efetivar os direitos LGBTI+, não nos referimos apenas às leis e garantias conquistadas nos últimos anos. Estamos falando também sobre as condições de vida, de sustento e de geração de renda dessa população.

Sabemos que a discriminação generalizada com base na orientação sexual, identidade de gênero, expressão de gênero e características sexuais desempenha um papel central na falta de oportunidades para as pessoas LGBTI+. Muitas vezes exilados de suas famílias, os recortes mais vulneráveis dessa população têm oportunidades de educação e emprego negadas. 

A exclusão de pessoas LGBTI+ do mercado de trabalho gera a busca por modos de sustento que se situam fora da lógica do emprego formal. Além disso, os efeitos econômicos da pandemia atingiram de forma mais intensa grupos minorizados da sociedade, o que gerou impactos significativos nos modelos de trabalho e geração de renda dessas camadas.   

Empreender é um caminho

Para grande parcela de nossa população, o empreendedorismo significa a única oportunidade de inclusão produtiva. Segundo dados da Global Entrepreneurship Monitor (GEM), 43 milhões de brasileiros lideram seus próprios negócios e entre 80 a 90 milhões dependem diretamente dessas empresas. 

Seja por necessidade ou oportunidade, empreender no Brasil é um desafio imenso e os obstáculos tendem a ser maiores para determinados recortes da população. Fomentar o empreendedorismo entre a população LGBTI+ demanda identificar as disparidades de oportunidades e desafios colocadas para essas pessoas e endereçá-las adequadamente. 

É ainda preciso abrir espaço para adoção de abordagens interseccionais, reconhecendo que algumas sobreposições de identidade (por exemplo, pessoas LGBTI+ idosas) podem tornar o caminho do empreendedor ainda mais difícil.

Liderança com diversidade

Nessa jornada, temos ouvido a experiência de nossos beneficiários e parceiros e olhado para os poucos dados existentes, a fim de construir estratégias que ampliem o número de negócios liderados especificamente por pessoas LGBTI+. 

Também estamos atuando para a geração de novos dados que ajudem as outras organizações na implementação de iniciativas que fomentem empreendimentos liderados por pessoas LGBTI+. É o caso da Pesquisa Empreendedorismo LGBTI+ e Geração, que é coordenada pelo Instituto Mais Diversidade, com execução técnica do Instituto Matizes e patrocínio do Itaú.

Por meio dessa iniciativa pretendemos traçar um diagnóstico do estado do empreendedorismo desempenhado por pessoas LGBTI+ de diferentes faixas etárias, com foco especial às pessoas 50+, e levando em consideração outros fatores como renda, gênero, raça e região. 

A pesquisa proporcionará bases para comparações estatísticas com outros levantamentos sobre empreendedorismo e seus resultados nos ajudarão a identificar as necessidades e elaborar recomendações para fomentar o empreendedorismo LGBTI+.

Os resultados serão publicados agora em junho de 2022 e irão apoiar a produção de dados públicos sobre a população LGBTI+ brasileira, contribuindo para efetivação da diversidade e equidade em um dos maiores mecanismos de inclusão produtiva com o qual contamos.

*Helen Faquinetti lidera o Instituto Mais Diversidade e Lucas Bulgarelli é diretor e fundador do Instituto Matizes.