O que tem no seu prato hoje?

O que tem no seu prato hoje?

Aproximadamente 33 milhões de brasileiros estão sem comida no prato. Se compararmos em números, a cidade mais populosa do país, São Paulo, tem cerca de 12 milhões de habitantes. Ou seja, hoje no Brasil uma população correspondente a quase 3 capitais paulistas não vai se alimentar corretamente. 

Em 2020, cerca de 9% dos lares brasileiros passavam fome. Já agora, no início de 2022, esse número aumentou para 15,5%. Isso quer dizer que, em um período de dois anos, 14 milhões de pessoas passaram a conviver com a fome no nosso país. 

Informação segura

 Esses dados são da segunda edição do Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil (II VIGISAN), desenvolvido pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (Rede PENSSAN). 

O Brasil foi referência internacional no combate à fome no início do século XXI. Hoje, com o desmonte de políticas públicas, a crise econômica e o aumento das desigualdades sociais, mais da metade (58,7%) da população está em situação de insegurança alimentar – quando uma pessoa não tem acesso regular e permanente a alimentos. 

Ao olhar para a fome é importante lembrar que os números representam pessoas. As mudanças em percentuais de insegurança alimentar – ainda que pareçam pequenas – significam milhões de pessoas convivendo cotidianamente com a fome.

Nada para comemorar 

No último dia 07 de junho foi celebrado o Dia Mundial da Segurança dos Alimentos. Criada em 2018 pela Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU), a data tem como objetivo chamar a atenção e inspirar ações que ajudem a prevenir, detectar e gerenciar os riscos de origem alimentar, contribuindo para a segurança alimentar.

Porém, desta vez a data se tornou mais simbólica. Com a apresentação destes dados de insegurança alimentar no Brasil, a nossa atual situação é a mais preocupante desde 2004. 

A insegurança alimentar ocorre quando uma pessoa não tem acesso regular e permanente a alimentos. Ela é classificada em três níveis:

  1. Leve

Incerteza quanto ao acesso a alimentos em um futuro próximo e/ou quando a qualidade da alimentação já está comprometida.

  1. Moderada

Quantidade insuficiente de alimentos.

  1. Grave

Privação no consumo de alimentos e fome.

Obviamente toda uma conjuntura estrutural acentuada pela pandemia do coronavírus, que causou o aumento do desemprego e da pobreza no mundo, contribuíram para estes resultados. Infelizmente, essa situação pode piorar, principalmente para as populações em vulnerabilidade. 

Gilson Rodrigues, fundador do G10 Favelas e que diariamente faz distribuições de marmitas solidárias em Paraisópolis, lamentou nas redes sociais sobre a fome nas comunidades periféricas:

“Eu gostaria tanto que isso realmente tivesse ficado no passado, mas, infelizmente, a história perdura e se repete todos os dias em nosso Pavilhão Social do G10 Favelas. A fila das marmitas solidárias só faz crescer embaixo dos nossos olhos e nos sentimos impotentes diante da situação porque, ao contrário da fila, as doações caíram e não conseguimos atender a todo mundo que chega até aqui com fome”.
Influência global 

Com a guerra entre a Ucrânia e a Rússia longe de ter um desfecho, ambos os países deixaram de exportar trigo, milho e cevada, itens básicos da cadeia global de suprimentos. E já estamos sofrendo o efeito disso no bolso: no Brasil, o preço de itens como o pão já subiu mais de  20%. 

O custo dos alimentos no planeta teve um salto superior a 13% e chegou ao mais elevado patamar da história.

A alimentação plant based tem se tornado uma possível solução para este cenário. Projetos de hortas comunitárias alimentam milhares de pessoas todos dias e substituem a proteína animal na mesa de muitos brasileiros com insegurança alimentar.  

O AgroFavela, projeto de hortas comunitárias realizado no galpão do G10 Favelas, beneficia diretamente 1.009 pessoas com o recebimento de hortaliças colhidas na horta, sendo 5.045 beneficiadas indiretamente. O projeto cultiva 60 espécies de hortaliças e frutas, em um espaço de mais de 900 m², que conta com uma horta vertical, vasos de plantas em boxes e canteiro.

Alimentação canábica 

De acordo com Marcello Grecco, CMO do The Green Hub, o cânhamo é um superalimento para humanos. Isso sem contar com a possibilidade de milhares de aplicações em variados segmentos industriais, como têxtil, construção civil, de papel e celulose, entre outros.

A produção de ração de aves e de gado seria mais nutritiva e eficiente do ponto de vista de rentabilidade se fosse enriquecida, por exemplo, com sementes ou farinha de cânhamo.

O óleo de cânhamo é um excelente suplemento para rações. Ele é uma importante fonte de ácidos graxos essenciais. Já as sementes e bolos de semente de cânhamo contribuem, com larga vantagem, como fonte de gordura e proteína na dieta animal.