REFUGIARTE: quando a arte fala

Foto: Reprodução Estou Refugiado

REFUGIARTE: quando a arte fala

Uma das principais barreiras para pessoas refugiadas é a comunicação. É difícil interagir e se adaptar em ambientes no qual você não consegue se expressar. Porém, a comunicação é um fenômeno complexo e se manifesta de diversas formas – e uma delas é a arte

A produção artística é uma das ferramentas utilizadas pelo Instituto Estou Refugiado para incluir e ajudar essas pessoas que estão fora de seus países de origem a interagir e socializar no Brasil. 

“É a experiência, e não a compreensão, que influencia o comportamento”. A partir deste pensamento do filósofo e comunicólogo Marshall McLuhan, o mesmo que dizia que o “meio é a mensagem”, podemos refletir sobre a escolha da arte como forma de comunicação de uma pessoa que não sabe o idioma local.

A arte envereda por caminhos subjetivos, diferente dos nossos meios de comunicação formais, como a linguagem ou a escrita, que são baseados em um sistema complexo de codificação e decodificação e que sofrem variações culturais. 

Estou Refugiado 

Fundada em 2017, a ONG Estou Refugiado possui base em São Paulo e tem uma tarefa: fazer a ponte entre empresários e empresas que queiram contratar refugiados para atuarem em postos de trabalho. 

Membro da Comunidade CIVI-CO, atualmente a ONG realizou duas ações envolvendo arte e inclusão de refugiados: 

CORES NO MUNDO 

A primeira foi o projeto “Cores do Mundo”, que tem a proposta de transformar os tapumes das construções em galerias a céu aberto pintadas por artistas refugiados, como no caso recente do Lavï Israel, congolês e residente do projeto, que pintou um painel em um novo empreendimento da Tecnisa. 

Além das ruas, o projeto está presente na rede blockchain. Todo o valor arrecadado é revertido para os próprios artistas, além de subsidiar a expansão do projeto e outras iniciativas na busca da inserção social por meio do trabalho.

Visite o site e adquira sua peça.  Opensea.io/ColorsOfTheWorld-RefugeeArt 

RETRATOS DE UMA NOVA VIDA 

“A era da Fotografia é também a das revoluções, das contestações, dos atentados, das explosões, em suma, das impaciências”. Este é um trecho do livro “ A Câmera Clara”, de Roland Barthes, no qual ele faz uma análise semiótica sobre a fotografia e a pós-modernidade. 

Dentro deste mundo globalizado, um grupo de jovens afegãos refugiados no Brasil utilizam toda a contestação e revolução contida em suas fotos para se comunicar com um país estrangeiro a partir de suas histórias. São quatro mulheres fotógrafas (Mahboba Rezayi, Shikofa Rasuli, Zahra Karimi e Masuma Yawari) e um fotógrafo (Morteza Rezahi).

O Estou Refugiado participou de uma ação para trazer o grupo para o Brasil, onde esses(as) jovens tiveram a chance de recomeçar suas vidas por aqui. Exemplo disso foi a parceria com a empresa Dress and Go, que inseriu três desses refugiados no seu time de colaboradores.

Também foi realizada uma interação dentro da programação do ZIV Mulheres, no Mês Internacional das Mulheres, onde a Ziv Gallery convidou as fotógrafas afegãs para produzirem as obras que estiveram em exposição na galeria, do Beco do Batman. 

Foto: Masuma Yavari
Realidade dos refugiados no Brasil

Em 2020 foram registrados 26.653 refugiados no Brasil. Em 2021, esse número caiu para 3 mil. Ao todo, 54.004 refugiados foram reconhecidos pelo Comitê e cerca de 21 mil tiveram registros indeferidos. Até o momento, o país tem refugiados de 77 nacionalidades, com a Venezuela em primeiro lugar, representando 90,82% dos casos.

O número elevado em 2020 ocorreu em razão do fluxo de imigrantes da Venezuela durante a grave e generalizada crise humanitária, reconhecida pelo CONARE. A Síria e a República Democrática do Congo ocupam o segundo e terceiro lugar do ranking com 3,91% e 1,22% de casos, respectivamente.

Em 2020, 75% das solicitações apreciadas pelo CONARE foram registradas nas Unidades da Federação (UF) que compõem a região norte do Brasil. O estado de Roraima concentrou o maior volume de solicitações de refúgio apreciadas pelo CONARE (60%), seguida pelo Amazonas (10%) e São Paulo (9%). 

A Organização Internacional para Migrações, OIM, e a Agência da ONU para Refugiados, Acnur, precisam de 1,79 bilhão de dólares para prestar auxílio aos refugiados e migrantes da Venezuela e suas comunidades de acolhida. 

Os dados estão disponíveis no estudo “Refúgio em Números” da Agência da ONU para refugiados. 

Confira o material completo:  https://www.acnur.org/portugues/wp-content/uploads/2021/06/Refugio_em_Numeros_6a_edicao.pdf