Mulheres incríveis na Educação

Mulheres incríveis na Educação

Por Adriana Castro

Dia 08 de março é comemorado o Dia Internacional da Mulher, uma data marcada pela luta por direitos iguais. Para celebrar as vitórias dessas batalhas, homenagearemos mulheres que nos inspiram de alguma forma em nosso dia a dia como educadoras, compartilhando bons exemplos e belas histórias. 

Há séculos, as mulheres travam lutas, vencem desafios e contribuem para pensar e transformar a Educação. A presença feminina é marcante em todos os níveis de formação educacional, mas vale ressaltar que isso foi sendo conquistado paulatinamente, pois nem sempre foi assim. 

As mulheres tiveram acesso à escola tardiamente e, na época, a formação era voltada para os cuidados com o lar e a família. Consegue imaginar que nós, mulheres, éramos consideradas “sexo imbecil”?  De acordo com as leis portuguesas, o sexo feminino fazia parte do imbecilitus sexus, uma categoria à qual pertenciam mulheres, crianças e doentes mentais.

Faremos uma retomada rápida no contexto histórico do papel feminino na educação para evidenciar a força da mulher nesta trajetória.

Nos tempos do Imperador

Com a vinda da família real portuguesa para o Brasil em 1808, a educação feminina, de forma geral, continuou a mesma. Se soubéssemos cuidar do lar e pudéssemos aparecer em público sem causar vergonha ao marido ou aos pais já estava de bom tamanho. Nosso martírio estava lançado. Queríamos mais: queríamos aprender a ler, escrever e interagir com o mundo intelectual.

Porém, só durante o período do Império brasileiro, as mulheres começaram a ter acesso à instrução das primeiras letras, ficando desobrigadas de cursarem o ensino secundário. Curso esse que servia para preparar os homens para o ensino superior.

A Constituição de 1824, a primeira do Brasil, propunha o ensino primário gratuito extensivo a “todos” os cidadãos. Percebam que colocamos entre aspas a palavra todos. Será que sabiam o conceito etimológico, já que não consideravam as populações negra e indígena?

Após a Independência surge a primeira legislação específica sobre o ensino primário, a Lei Geral de 15 de outubro de 1827, que marcou a criação de escolas de primeiras letras em todo o país, e que foi referência para a escolha da data comemorativa do Dia do Professor.  

A lei tratou dos mais diversos assuntos, como a remuneração dos mestres e mestras, o currículo mínimo, a admissão de professores e as escolas para meninas. Todavia, as mulheres seguiram sendo discriminadas: não tinham acesso a todas as matérias ensinadas aos meninos, sobretudo as consideradas mais racionais, como a geometria, e deveriam aprender as “artes do lar”. 

Tudo começou com elas

A história continua sendo contada. Conheça algumas destas mulheres extraordinárias da Educação, que foram disruptivas para a sua época e essenciais para as nossas conquistas atuais.

Nísia Floresta Brasileira Augusta (1810 – 1885) 

Escritora potiguar, fundou o Colégio Augusto em 1838, no Rio de Janeiro, um dos primeiros na instrução para as meninas.

Adélia Sigaud (1840 – tempo de vida desconhecido) 

Cega desde criança, foi a primeira mulher brasileira a ler pelo método Braille. É triste constatar que ainda hoje seja um grande desafio em nossas escolas por falta de recursos didáticos. Ela defendeu os direitos de mulheres, indígenas e escravos, o que acabou motivando a ação de Dom Pedro II a fundar o Instituto dos Meninos Cegos (Instituto Benjamin Constant), onde tornou-se a primeira professora. 

Maria Augusta Generoso Estrela (1860 – 1946) 

Primeira médica brasileira, formou-se nos EUA em 1881. Por ser mulher, não poderia estudar na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, mas submeteu-se aos exames nela para validar seu diploma, conforme determinava a Reforma de 1832. Falava quatro idiomas (inglês, francês, espanhol e alemão) e estava preparada para a arguição. Sua atitude e êxito contribuíram para as mulheres ingressarem na graduação em 1879.

Armanda Álvaro Alberto (1892 – 1967) 

Lutou pela educação pública, gratuita e laica para todos e todas. Sendo uma mulher de atitudes, fundou a Escola Proletária de Meriti em 1921. A primeira do Brasil a ter uma biblioteca e a oferecer merenda. 

Rosalina Coelho Lisboa Larragaiti (1900 – 1975) 

Poeta, jornalista, ela foi a primeira brasileira enviada ao exterior em missão intelectual em 1932 e a única mulher a integrar o comitê responsável pela aprovação da radiodifusão educativa no Brasil em 1933.

Nilceia Freire (1952 – 2019) 

Primeira mulher a ocupar o cargo de reitoria de uma Universidade pública no Estado do Rio – Uerj, entre os anos 2000 e 2003. Durante sua gestão, implantou o projeto pioneiro de cotas para alunos de escolas públicas e afrodescendentes.

Dorina Nowill (1919 – 2009) 

Foi uma professora e ativista brasileira cega. Fundou a primeira imprensa Braille criou uma Organização sem fins lucrativos que promove o acesso de cegos à educação.

Emília Ferreiro (1937)

Psicóloga e pedagoga argentina, radicada no México, doutora pela Universidade de Genebra, e teve a orientação de Jean Piaget. O trabalho desenvolvido por Emília Ferreiro difundiu-se no Brasil por meio do Projeto Ipê, organizado por Instituições do estado de São Paulo, e pela publicação do livro “Psicogênese da Língua Escrita” (1985), obra que influenciou muitos educadores brasileiros e também os Parâmetros Curriculares Nacionais.

Maria Montessori (1870 – 1952) 

Primeira mulher a se formar em Medicina na Itália, foi também pioneira no campo pedagógico ao enfatizar à autoeducação do aluno frente ao papel do professor como fonte de conhecimento. Criou o método Montessori, que defende o desenvolvimento da criança por seus próprios esforços, no seu ritmo e seguindo seus interesses.  

Marie Curie (1867 – 1934) 

Formou-se em Matemática e Física na Universidade de Sorbonne, na França. Foi uma das mulheres a mudar a história e os rumos do estudo da radioatividade. Ganhou o prêmio Nobel duas vezes, mostrando ao mundo o valor intelectual e a contribuição que as mulheres podem fornecer à Ciência, o qual era, nessa época, de caráter quase exclusivo dos homens. 

Escrevendo novas páginas

Após conquistarem o acesso aos cursos superiores, as mulheres continuaram progredindo no campo da Educação, tornando-se mestras e doutoras em diferentes áreas do saber. Durante a segunda metade do século XX, a presença delas cresceu expressivamente, tanto como força de trabalho, quanto na participação em todos os níveis de formação.

“No Brasil, a década de 90 marca a virada das mulheres brasileiras, que ultrapassaram os homens em nível de escolarização. A proporção de pessoas analfabetas já é significativamente menor entre as mulheres do que entre os homens em todos os grupos com até 39 anos de idade. As mulheres também superaram os homens em número médio de anos de estudos e, nas salas de aula, reinam absolutas: 85% dos 1,6 milhão de professores da educação básica em todo o país são do sexo feminino”, aponta um levantamento do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) do ano 2000.

Segundo esse relatório do Inep, o fator de maior influência para essa virada das mulheres no nível de escolarização foi o ingresso das mulheres no mercado de trabalho, o que as estimulou a buscar um melhor nível de escolaridade, inclusive como forma de compensar a discriminação salarial de gênero.

Se fôssemos citar todas as mulheres ilustres da Educação, este artigo tornaria-se um livro facilmente. Sabemos que foi preciso muita luta e coragem para que nós mulheres tivéssemos uma voz ativa na sociedade e direitos mínimos reconhecidos.

O investimento em Educação tem crescido com o passar dos anos, mas o caminho a ser percorrido ainda é longo. A Educação precisa ser, urgentemente, para todas e todos.

Agora conta aqui para a gente quem é a mulher que te inspira todos os dias? Estamos curiosos para conhecer a história de mais mulheres extraordinárias!

 

*Formadora nos projetos da Associação Labor Educacional