23 mar Construindo uma educação antirracista
Por Janine Rodrigues*
O sankofa, ideograma adinkra dos povos acã (África Ocidental), é representado por um pássaro com a cabeça voltada para trás, corpo virado para frente e um ovo em seu bico. Os povos originários nos ensinam a compreender que é imprescindível retornar ao passado para ressignificar o presente e construir um futuro mais justo e equânime
É assim quando olhamos para as crianças e pensamos quase imediatamente que elas são o futuro do planeta. Lembro-me de uma conversa com o querido Daniel Munduruku, onde ele dizia: ”Cada pessoa, em cada fase da vida, é o melhor que ela pode ser. Pensamos nas fases da vida como as estações do ano. Primavera, verão, outono e inverno não são mais importantes que os outros. Cada fase, cada ciclo é o melhor que pode ser”.
Ciclos se abrem e se encerram. E analisando o sankofa, e tudo que aprendemos com os povos Mundurukus, acredito que o futuro é agora. Lembro-me também de uma frase do querido Fernando Baniwa, que me disse recentemente numa tarde de estudos: “o futuro é o passado mais recente”.
Só é possível pensar no futuro se nossos incômodos e nossas pendências de hoje forem reconhecidas e enfrentadas como sendo um compromisso de todos e todas.
Enquanto os grupos minorizados (pessoas negras, povos indígenas, mulheres, comunidade LGBTQIAP+, dentre outros), exterminados e privados de saúde em todos os sentidos forem os únicos a se manterem na linha de frente desta batalha, e os principais interessados em políticas públicas que garantam seus direitos, não há futuro.
E não haverá futuro porque não há vida agora. Há sobrevida. Então, quais reflexões podemos fazer para transformar essa perspectiva?
Retornar ao passado: Qual foi nossa verdadeira história? Quais batalhas perdemos? Quais vencemos? Quem foram os verdadeiros heróis? E quem foram os verdadeiros vilões?
Ressignificar o presente: Sabendo então qual foi o passado, quais ações e escolhas faremos hoje? Qual nosso lugar de luta, de fala, de decisão hoje?
Construir o futuro: O que eu vejo? Onde eu me vejo? E onde eu me vejo, eu consigo te enxergar também? No meu futuro promissor cabe você? No seu futuro promissor, caibo eu?
Jogo da Lei 10.639
Parceria entre a Piraporiando e o Porvir, o Jogo da Lei 10.639 é voltado para apoiar professores e professoras a refletir sobre suas práticas e criar projetos de educação antirracista em suas escolas.
“Implementar a Lei 10.639 ajuda a diminuir o impacto do racismo institucional. Isso não é só responsabilidade dos educadores negros e das crianças negras. É um desafio para toda a escola. É preciso o coletivo”, defende Jenniffer Cornélio, pedagoga e integrante do educativo da Piraporiando.
“Um projeto antirracista não acontece só em um lugar, ele deve permear todos os espaços. O Jogo é um material voltado aos educadores, não necessariamente para aplicar com os estudantes. Ele pode ser usado para pensar qualquer espaço da escola”, afirma Tatiana Klix, diretora do Porvir.
O tabuleiro do Jogo da Lei 10.639 está disponível para download gratuito.
*Educadora, escritora e fundadora da Piraporiando.