Escola de negócios da periferia para periferia
Por Jennifer Rodrigues & Luis Coelho* A “Empreende Aí” era apenas um blog para falar sobre as experiências de como ser empreendedor na periferia. Em 2015, fundamos o negócio de impacto social de mesmo nome, depois de assistir a uma palestra do Muhammad Yunus e entender que precisávamos fazer algo mais aprofundado. A partir daí começamos a estruturar a Empreende Aí enquanto escola de negócios, a primeira feita da periferia para a periferia, e que já capacitou milhares de empreendedores. Nosso foco é capacitar mulheres e homens afroempreendedores, bandeiras extremamente importantes para nós, visto que o corpo de sócios é formado por um homem negro e uma mulher. Ao capacitar afroempreendedores, percebemos que muitos deles estão criando negócios voltados para melhorar a vida da população negra, como faz o Diogo Bezerra com seus negócios voltados à educação, um na área de idiomas e outro na de tecnologia. Ou como faz a Michelle Fernandes que possui um dos maiores e-commerces do Brasil voltados para a moda afro, com venda de turbantes e acessórios, fortalecendo a moda e a cultura negra. Assim como também faz o Bruno Brigida do “Clube da Preta”, que criou um clube de assinatura para vender produtos de pequenos afroempreendedores para a população de classe média alta, fortalecendo a cultura preta em diversas camadas sociais e gerando renda para esses empreendedores. Formando potências A Empreende Aí possui programas de capacitação 100% online, 100% presencial e híbridos. Além disso, temos, em parceria com outras organizações, dois fundos de microcrédito com política de juros zero para poder colocar dinheiro na mão do empreendedor que está negativado, por exemplo. Gerenciamos quatro escritórios compartilhados de trabalho juntamente com a prefeitura de São Paulo, em regiões periféricas, onde oferecemos infraestrutura de trabalho, rede de conexões e capacitações todas as semanas, nos mais variados temas relacionados ao empreendedorismo e a geração de renda. Entendemos que o combate ao racismo precisa de várias frentes acontecendo simultaneamente: frentes políticas, econômicas, educacionais, culturais e muitas outras. Afinal, para combater o racismo precisamos de pessoas negras em posições de poder, e só conseguiremos isso buscando acesso às ferramentas de poder existentes. Por aqui, já sabemos que o dinheiro e o empoderamento econômico é uma dessas ferramentas, da qual buscamos compartilhar conhecimentos para que a população preta possa ter essa “arma” no dia a dia da luta antirracista. Possuir dinheiro individualmente não acaba com o racismo, mas é uma das ferramentas que precisamos acessar para promover justiça social. *Jennifer é psicóloga e Luis é administrador de empresas, ambos sócios-fundadores da Empreende Aí. Conheça a Empreende Aí
A importância de unir mulheres empreendedoras
“Nós transformamos o sistema, as mentes, a sociedade.” A fala de Patrícia Villela Marino, co-fundadora do CIVI-CO, sintetizou o poder transformador do feminino neste 8 de março, Dia Internacional da Mulher, em um evento sobre liderança e empreendedorismo feminino, produzido pela AngelUs Network e Mubius WomenTech Ventures e apoiado pelo CIVI-CO. Neste encontro foram compartilhadas experiências e vivências no campo do empreendedorismo, da vida pessoal e sobre a feminilidade em uma sociedade em transformação, que mesmo conquistando espaços ainda trava difíceis batalhas e retrocessos em uma cultura conservadora e patriarcal. Empoderamento O evento, que lotou o auditório do CIVI-CO, foi uma oportunidade especial de maximizar o empreendedorismo feminino e aprender com as narrativas de sucesso das mulheres que lideram a transformação no mundo corporativo. Além disso, as conexões feitas a partir desse encontro fortalecem ainda mais a rede de mulheres empreendedoras. A programação contou com rodas de conversa, painéis e uma rodada de pitch de empreendedoras, que apresentaram suas propostas e soluções para tornar o ecossistema do empreendedorismo no Brasil um ambiente mais igualitário. Alguns dos empreendimentos da Comunidade CIVI-CO, que são liderados e fundados por mulheres, apresentaram suas iniciativas e despertaram o interesse dos espectadores, sendo um palco repleto de oportunidades, a exemplo de: Burocras, Sensativa e Herself. “A gente precisa agora ser agentes da nossa própria virada, nos ambientes de negócios, nas nossas próprias vidas e na nossa sociedade.” Erlana Castro, professora da Fundação Dom Cabral, salientou que essa é a hora de mudanças e que as mulheres devem se preparar para serem protagonistas do futuro, onde estarão cada vez mais inseridas em espaços que historicamente foram negados a elas. De mãos dadas No painel “Desenvolvimento de Liderança Feminina por Elas e Eles” aconteceu um bate-papo entre Patrícia Villela Marino e Carlos Constantini, CEO Wealth Management & Services do Itaú Unibanco. Na conversa mediada por Claudia Colaferro, CEO e fundadora da AngelUs, ambos argumentaram como homens e mulheres podem ser aliados nessa evolução, valorizando o feminino e construindo caminhos para inclusão e equidade no meio corporativo. Leia: Homens podem combater o machismo no trabalho? Durante a conversa também foram apontados os desafios trilhados, principalmente para mulheres que ainda não possuem acessos às conquistas e lutam pelo básico – que é a sobrevivência. Constantine, com ampla experiência na inclusão em ambientes corporativos, ressaltou a importância da escuta e do aprendizado do homem nesse processo. “Com o passar do tempo passamos a aprender que não é necessário só mulheres se candidatando para vagas, mas também elas precisavam estar nas bancas avaliadoras, principalmente para criar laços com a entrevistada e gerar empatia e um contraponto entre os homens”, defendeu.
Passou da hora de controlar o garimpo na Amazônia
Por Larissa Rodrigues* Em janeiro, o Presidente Lula cancelou o Decreto 10.966/2022, do governo Bolsonaro, que criava um programa para incentivar os garimpos. O cancelamento foi uma correção importante do presidente Lula. Mas, ainda falta cancelar o que, de fato, aumentará a garimpagem na Amazônia: a 6ª rodada de disponibilidade de áreas lançada pela Agência Nacional de Mineração (ANM) em setembro de 2022. Mais do que um programa de incentivos, a rodada é uma medida concreta, pois autorizará novos garimpos. A rodada ofereceu 420 áreas para permissões de lavra garimpeira – que é a autorização para o funcionamento dos garimpos. As áreas somam quase 1 milhão de hectares e estão predominantemente na Amazônia, em locais sabidamente problemáticos em termos de ilegalidades nas operações e proximidade com Terras Indígenas e Unidades de Conservação, como, por exemplo, a região de Itaituba, no Pará. Das áreas oferecidas, 243 apresentaram interessados. No último dia 8 de março, o resultado foi homologado e os interessados puderam solicitar sua permissão de lavra para a agência. Mas, o verdadeiro resultado dessa rodada, será o aumento dos problemas associados à atividade garimpeira e que ficaram demonstrados com a tragédia humanitária do povo Yanomami. Hoje, a ANM não consegue garantir a fiscalização nem mesmo das áreas já autorizadas por ela. Muitas áreas são utilizadas para a fraude da “lavagem de ouro”, servindo para registrar o metal extraído ilegalmente das Terras Indígenas para que ele ganhe uma aparência de legalidade. Em outras áreas autorizadas a extração mineral acontece para além dos limites geográficos permitidos. Dados do Instituto Escolhas confirmam isso e mostram que do ouro vendido pelos garimpos para as empresas do sistema financeiro que podem comprá-lo, cerca de 90% possui indícios de ilegalidade. Hoje, dar novas autorizações para os garimpos significa aumentar o espaço para essas irregularidades. Além disso, no estado do Pará, sob o governo de Helder Barbalho, o licenciamento ambiental para garimpos passou a ser municipal. Isso aconteceu apesar dos impactos ambientais irem muito além da região dos municípios e do fato de que, como já divulgado pela mídia, prefeitos são incentivadores da garimpagem, o que inviabiliza o processo de licenciamento e a fiscalização. Para completar, lá atrás, em 2013, a Lei 12.844 criou um sistema de “boa-fé” para o comércio de ouro entre garimpos e empresas do sistema financeiro. Com ele, as empresas ficam protegidas, pois presume-se que suas operações são feitas de “boa-fé”, independentemente de onde veio o ouro. Essa falta de controles incentiva a atuação de organizações criminosas e o crescimento vertiginoso das áreas de garimpo. Dados do MapBiomas mostram que a área dedicada aos garimpos na Amazônia já é maior do que toda a área dedicada à mineração industrial no país. E dentro de Terras Indígenas, onde a mineração é ilegal, a área dos garimpos dobrou entre 2018 e 2021. Apesar do regime de permissão de lavra garimpeira ter sido concebido para operações rudimentares, em pequena escala, e, por isso, com condições de outorga facilitadas, isso não é o que ocorre na prática. Hoje, os garimpos contam com maquinário, logística e organização industrial e possuem conexões com empresas em todos os elos da cadeia, inclusive no exterior. Gerando riqueza apenas para alguns poucos, a garimpagem tem deixado um rastro de danos humanitários, ambientais e econômicos. As operações ocorrem sem estimativas do potencial mineral ou planos de aproveitamento econômico, sem garantias ambientais e sociais e marcadas pela invasão de áreas proibidas, como o território Yanomami. Para os minerais, que são bens da União, é imprescindível um plano de aproveitamento que beneficie o país e a sociedade, para que os ganhos da atividade superem suas perdas, que, no momento, são muitas e graves. Ao permitir a expansão dos garimpos, o país tem chancelado a escolha de explorar recursos minerais valiosos, como o ouro e a cassiterita, de modo pouco eficiente, tanto ambiental como economicamente. E cabe ao Ministério de Minas e Energia e à ANM organizar o setor considerando o interesse público. A realização da rodada pela ANM apenas confirma que o país não tem um plano coerente para o aproveitamento dos recursos minerais. Disponibilizando novas áreas para garimpos, sem controles e sem fiscalização, os esforços do governo para retirar os garimpeiros da Terra Indígena Yanomami, e de outros locais, não serão exitosos. A atividade ilegal deverá permanecer vantajosa e os invasores devem logo voltar. Diante da preocupante ocupação garimpeira na Amazônia, que opera em escala industrial, dos danos ambientais, sociais e econômicos, da ilegalidade e das dificuldades de fiscalização, é imprescindível que a ANM cancele a rodada e controle o setor, fazendo jus ao seu nome. Caso contrário, restará a pergunta se o que temos é uma agência que regula as atividades minerais ou simplesmente incentiva a garimpagem. Texto publicado originalmente no Jornal O Globo *Pesquisadora e Gerente de Portfólio do Instituto Escolhas.
Homens podem combater o machismo no trabalho?
O machismo é um problema frequente em diversas esferas da nossa sociedade, inclusive no ambiente de trabalho. Apesar de muitos avanços terem sido alcançados nas últimas décadas, ainda há muito a ser feito para garantir a igualdade de gênero no local de trabalho. Para mudanças significativas realmente acontecerem, os homens precisam ser atuantes nas relações de gênero, pois é um problema que impacta a vida de todos, inclusive as deles. É papel deles refletir sobre as ideias e comportamentos que geram a violência e, a partir daí, se transformar e engajar pelo exemplo. O que fazer? Nesse sentido, é importante que homens assumam um papel mais ativo na luta contra o machismo no ambiente de trabalho. Aqui estão 7 sugestões práticas de como eles podem ajudar: 1. Ouça e aprenda É importante que homens ouçam as experiências de mulheres no ambiente de trabalho e aprendam com elas. Isso pode incluir conversas informais, feedbacks ou até mesmo treinamentos sobre diversidade e inclusão. Ao ouvir e aprender, os homens podem entender melhor as barreiras que as mulheres enfrentam e como podem ajudá-las a superar tais obstáculos. O GLOSSÁRIO ANTIMACHISTA do Movimento Mulher 360 é uma ótima oportunidade de aprendizado! 2. Reconheça seus privilégios Homens, especialmente aqueles que ocupam posições de liderança, têm mais privilégios no ambiente de trabalho do que mulheres. É importante que reconheçam isso e usem sua posição para ampliar as vozes das mulheres e dar mais espaço para que sejam ouvidas e valorizadas. 3. Promova a equidade salarial Infelizmente, ainda há muitas disparidades salariais entre homens e mulheres no ambiente de trabalho. Homens podem ajudar a combater essa desigualdade exigindo que as empresas paguem salários justos e equitativos para todos os seus funcionários, independentemente do gênero. 4. Combata comportamentos machistas Todos os homens podem combater comportamentos machistas no ambiente de trabalho (e fora dele também!), como piadas ou comentários sexistas. Quando ouvem ou presenciam esse tipo de comportamento, devem chamar a atenção e deixar claro que não é aceitável. 5. Dê suporte Homens podem oferecer suporte emocional e profissional para as mulheres no ambiente de trabalho, especialmente aquelas que enfrentam discriminação ou assédio. Isso inclui oferecer ajuda em projetos, oferecer feedbacks construtivos ou mesmo ser um mentor/aliado em situações difíceis. 6. Amplie a diversidade Homens podem ajudar a ampliar a diversidade no ambiente de trabalho apoiando a contratação e promoção de mulheres e outros grupos sub-representados. Isso pode incluir fazer indicações para vagas, ajudar a recrutar em redes de contatos ou até mesmo ser um defensor da diversidade em reuniões e decisões importantes. 7. Desafie o status quo Homens podem desafiar o status quo no ambiente de trabalho questionando a falta de diversidade e de oportunidades para mulheres. Eles podem apontar a ausência de mulheres em cargos de liderança e lutar por mudanças positivas. Este é o caminho Toda transformação positiva na sociedade só acontece quando há engajamento de todos e todas. A equidade de gênero também é responsabilidade dos homens, que devem assumir urgentemente um papel mais ativo nessa luta. Assim, construiremos juntos um ambiente de trabalho mais justo e inclusivo, com oportunidades iguais para homens e mulheres.
A reinvenção da Imprensa Negra
Por Likam Kyanzaire* Depois do assassinato de George Floyd em 2020, Elinor Tatum, editora-chefe do New York Amsterdam News, o jornal negro mais antigo da cidade de Nova York, percebeu que era necessário adotar uma nova abordagem jornalística para a cobertura da violência e da discriminação generalizada sofrida pela comunidade negra. Tatum, terceira geração de jornalistas da família, queria que o jornalismo local produzido por negros fosse capaz de investigar injustiças sociais com mais rigor do que são investigadas pela imprensa tradicional. Em uma época em que as redações começam a desaparecer, dados recentes do centro de pesquisa americano Pew Research mostram que há um aumento na preferência do público por fontes de notícias online, incluindo as mídias sociais, que são usadas por mais de 66% dos adultos para se informar. No entanto, o jornalismo negro está perdendo terreno na transição digital. Mais que qualquer outro grupo racial dos Estados Unidos, os negros são os que mais optam por se informar fontes tradicionais, como estações de TV e jornais locais. Tatum entrou em contato com negros donos de outras empresas de mídia para buscar uma forma de garantir que a imprensa negra pudesse sobreviver e crescer diante desse novo quadro. Em 2020, 10 importantes publicações negras — New York Amsterdam News, Atlanta Voice, Houston Defender, Washington Informer, Dallas Weekly, St. Louis American, Michigan Chronicle, Afro, Seattle Medium e Sacramento Observer — se uniram para lançar o “Fundo para a Imprensa Negra”, um programa que apoia financeiramente veículos operados por e de propriedade de negros. O Fundo é administrado em parceria com a Local Media Foundation (LMF, na sigla em inglês), fundo filantrópico da organização sem fins lucrativos Local Media Association que ajuda empresas de mídia a manter sua estabilidade financeira nesse cenário de mudanças rápidas. O fundo permitiu a criação colaborativa da “Word In Black” (ou Palavra Negra), a primeira redação coletiva do país que divulga notícias por, para e sobre a comunidade negra. A plataforma online de mesmo nome é administrada editorialmente pelos 10 editores do coletivo. “Ainda há mais de 230 jornais cujos donos são negros no país”, observa o jornalista Nick Charles, ex-diretor-geral da Word In Black, e “o que a maioria precisa é de uma transição suave e eficiente para os produtos digitais”. Saiba mais sobre o Fundo no site da SSIR Brasil. Leia a matéria completa *Escritora e colaboradora da Stanford Social Innovation Review.
Temporais nos ensinam sobre crises climáticas
O aumento das temperaturas não só geram secas e escassez. Com o aquecimento do planeta, e consequentemente dos oceanos, fenômenos climáticos extremos devem ser cada vez mais frequentes e intensos. As chuvas no litoral norte paulista foram três vezes maiores do que o previsto e causaram 65 mortes em Ubatuba e São Sebastião, até o momento. De acordo com os especialistas, esses episódios em intervalos mais curtos de tempo estão relacionados com as interferências humanas no ambiente, como a liberação de gases de efeito estufa e de desmatamento das florestas. “Quando a temperatura do oceano passa dos 26ºC, 27ºC, a evaporação aumenta exponencialmente. E o vapor da água é o principal fator da formação das nuvens e das chuvas”, explica Carlos Nobre, pesquisador sênior do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP, em entrevista ao portal Terra. A elevação de temperatura do planeta também aumenta a concentração da umidade na atmosfera, e o vapor úmido serve como combustível para a ocorrência de chuvas. Esse fato aliado ao conceito de que as catástrofes climáticas é um fenômeno social, observamos como esses acontecimentos afetam geralmente as populações em vulnerabilidade. Catástrofe social A pobreza está presente em todos os lugares do planeta, mas existe um desequilíbrio nesses números. Há uma diferença geográfica, étnica e racial na distribuição das riquezas – e da falta dela também. E não precisa ir longe: uma breve volta na sua rua ou no seu bairro é suficiente para notar que a má distribuição de renda afeta as pessoas pretas mais severamente. “Imagina você acordar todos os dias tendo consciência que talvez não exista mais planeta e as pessoas que conhecemos, que a sua galera serão as primeiras a morrer. Quando a gente olha para as enchentes de Petrópolis, que resultou em 233 mortes, podemos ver que existe uma predominância na cor dessas pessoas e são as pessoas pretas”, desabafa Amanda Costa, militante climática e fundadora do Perifa Sustentável, no podcast Planeta CIVI-CO. Ouça mais dessa conversa! É um exercício de observação profunda – se for possível, use até uma lupa. O racismo é um problema estrutural e age em todas as camadas da sociedade. Além de impedir o acesso das pessoas aos bens materiais, ele também as privam de espaços e até da produção intelectual. Racismo ambiental Então podemos dizer que o racismo ambiental está atrelado a especificidades, como as que dizem respeito à origem geográfica, sociais e culturais dos indivíduos, pois os impactos climáticos têm cor, gênero e lugar. E em nossa sociedade, motivada pelas relações de consumo, as periferias e as populações tradicionais são as que menos consomem e as mais afetadas pelas consequências das alterações climáticas, que não priorizam o bem-estar dessas populações vulnerabilizadas. Como ajudar Faça sua parte para combater as crises climáticas diariamente. Se puder, doe para ajudar os acometidos pela tragédia no litoral norte paulista. Diversas ONGs e instituições estão se mobilizando para arrecadar e distribuir doações. Confira abaixo algumas dessas organizações e saiba como doar: Cruz Vermelha São Paulo (@cruzvermelhasaopaulo) Gerando Falcões (@gerandofalcoes) Instituto Conservação Costeira (@institutoconservacaocosteira) Instituto Verdescola (@institutoverdescola) Legião da Boa Vontade (@lbvbrasil) Projeto Recomeçar (@projetorecomecar.cs)
Desenvolvimento humano e organizacional: a transformação do RH
Por Kyvo O profundo impacto da pandemia de COVID-19 e a aceleração digital vivida nos últimos anos somados à pauta cada vez mais necessária de inclusão e diversidade vêm transformando exponencialmente a estrutura das empresas. Como consequência, algumas áreas se viram obsoletas em relação ao cenário atual e vêm buscando se adaptar. Esse é o caso dos Recursos Humanos, que saiu do posto de fazer apenas a parte operacional e passou a ocupar um lugar de destaque nas organizações, ampliando sua responsabilidade na gestão de pessoas. Neste artigo pretendo traçar um panorama do que tem sido feito para lidar com as necessidades contemporâneas, sem deixar de agregar valor aos negócios. Em 2020, uma pesquisa realizada pela consultoria KPMG ouviu quase 1.300 profissionais de RH de 59 países e a maioria deles já acreditava que a área precisava se reinventar completamente para lidar com os desafios que viriam pela frente. Garantir a experiência e o bem-estar dos colaboradores, auxiliar lideranças no desenvolvimento de uma nova gestão que apoiasse o trabalho remoto e redefinir ou aprimorar a cultura com foco no digital e na agilidade foram postas como pautas prioritárias para a mudança da área. Em 2021, uma pesquisa feita pela mesma consultoria apontou que a transformação da área está relacionada diretamente à digitalização acelerada e a dupla disrupção causadas pela pandemia. O RH está, definitivamente, diante de novas responsabilidades. Da burocracia à estratégia A área de Recursos Humanos ainda é comumente definida como o departamento que apenas trata de assuntos burocráticos. Realmente, durante muito tempo o setor tinha funções engessadas e era totalmente dependente dos líderes das empresas. Não havia autonomia para criar soluções e se limitava a processos básicos para o funcionamento do negócio e não com o foco no médio, nem no longo prazo. Recrutamento e seleção, admissão, demissão e apoio na elaboração da folha de pagamento eram as atividades rotineiras e não passava muito daí. Entretanto, com todas as demandas da atualidade que citei acima, este modelo não funciona mais e a empresa que ainda não começou a se adaptar provavelmente já sente, ou sentirá muito em breve, um impacto negativo em seus resultados. Para se adequar ao cenário atual é preciso estar atento às necessidades das pessoas e o RH é o grande propulsor dessa mentalidade em uma empresa que quer inovar. Cada vez mais a experiência centrada no indivíduo norteia a forma de se fazer negócios e isso engloba todas as pessoas envolvidas no processo: do funcionário ao cliente. Humanizar as organizações é o ponto de partida para a grande transformação e a área precisa ser estratégica e estar totalmente integrada às outras para fazer isso acontecer. Caso não se adapte a esta realidade do mercado atual, a premissa do indivíduo como centro da saúde organizacional não será disseminada e, diante disso, haverá um reflexo negativo na satisfação do colaborador, diminuindo sua produtividade. Levando em consideração que empresas são um coletivo, quanto menor a satisfação das pessoas que nela trabalham, menor a produtividade como um todo, trazendo piores resultados para a empresa. Resumindo, o desempenho organizacional está positivamente ligado à união e colaboração. Diante das atribuições atuais do departamento, o nome Recursos Humanos se torna, ao meu ver, limitado para uma área com tamanha importância. Há outro nome dado a ele que, particularmente, acho mais adequado: Desenvolvimento Humano e Organizacional (DHO), já que estamos falando de uma área cada vez mais importante, põe em prática uma gestão de pessoas mais ativa e estratégica. Vale lembrar que a necessária transformação deste departamento não quer dizer que as funções operacionais de gestão de pessoas deixem de existir. Elas continuarão no dia a dia, mas cuidar da integração, da satisfação e da capacitação dos colaboradores e atender suas necessidades se tornaram também atribuições fundamentais. Cultivar um clima organizacional harmonioso e a qualidade de vida saudável no ambiente corporativo contribuirá para o alcance das metas e para o sucesso da empresa. Acredito, portanto, que o papel prioritário do setor é fazer a sua jornada virar uma jornada de gestão de pessoas fundamentalmente voltada para o capital humano e social e, a partir daí, se tornar o principal disseminador dessa cultura por toda a organização. Texto publicado originalmente no site da Kyvo
Comunidades tradicionais têm papel essencial no desenvolvimento da Amazônia
Por CEBDS Cada vez mais, fica claro que o desenvolvimento sustentável da Amazônia requer ações que levem em consideração a realidade local e contem com a participação das comunidades tradicionais. O “Estudo de Boas Práticas Empresariais na Amazônia”, que acaba de ser concluído pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) em parceria com o Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam), lista vários exemplos dos quais emerge o papel fundamental que os povos originários desempenham na relação com o setor privado. Um deles, desenvolvido pela Amazon, pela The Nature Conservancy (TNC) e pelo Centro Internacional de Pesquisa Agroflorestal (ICRAF), tem como meta remover 9,6 milhões de toneladas de carbono na atmosfera em 30 anos, além de beneficiar 3.000 famílias e uma área total de 18 mil hectares. O essencial do plano é acelerar a recuperação de áreas degradadas ou improdutivas via sistemas agroflorestais. O resultado gera, na prática, um ganha-ganha. Por um lado, geram-se créditos de carbono e, por outro, impulsiona-se a renda de agricultores que cultivam cacau e açaí. E se o foco sair do produto já pronto e partir para a matéria-prima? Neste caso, a iniciativa capitaneada por um grupo que inclui Michelin, WWF-França, WWF-Brasil, Memorial Chico Mendes e Fundação Michelin é um bom exemplo. O projeto desenvolvido por esses parceiros no estado do Amazonas já começou com a compra de 7 toneladas de borracha, de forma simbólica, para estreitar a relação de confiança com os produtores locais. O objetivo principal, entretanto, nos próximos anos, é chegar à compra de 700 toneladas, o que beneficiaria 3,8 mil famílias de forma direta e indireta. No Pará, mais especificamente no Tapajós, Baixo Tocantins e Médio Juruá, o principal objetivo de um programa que reúne vários parceiros, entre eles a Natura, a Conexus, o Projeto Saúde e Alegria e o Sebrae, é contribuir para o fortalecimento da floresta em pé. Além de estimular o empreendedorismo e o desenvolvimento territorial. Entre os principais impactos da ideia está o investimento em mais de 20 cadeias da sociobiodiversidade local. O que deve beneficiar mais de 2 mil famílias e envolver 13 cooperativas das regiões. Melhoria da qualidade de vida dos produtores locais também é o objetivo de um programa desenvolvido pela Suzano no Pará, Maranhão e Tocantins. Em termos de produtos promovidos pela iniciativa, que foca na gestão, na produção e na comercialização, existem várias frentes. Por exemplo: farinha de mesocarpo, óleo de babaçu, açaí em polpa, carvão, amêndoas e artesanato. Uma atenção especial é dada ao Programa Colmeias, que visa fomentar a produção de mel dentro das áreas de plantio da empresa. Os produtores parceiros recebem assistência e capacitação técnica e de gestão, bem como ajuda para a implementação de novas tecnologias e assistência na comercialização do mel produzido. Entre todas as atividades fomentadas, a expectativa é que seja gerada uma renda de até R$ 9,5 milhões em três anos. A Suzano calcula que 9 mil pessoas foram retiradas da pobreza pelo investimento social do grupo nas suas áreas de atuação em 2021. Conectividade e energia, além de infraestrutura em geral, como acesso à água e ao saneamento básico, também são vitais para muitas comunidades na Amazônia. Por isso que o caso da Vila Restauração também é interessante. Por meio de um grupo formado por várias empresas – Energisa, (re)energisa, Aneel, TIM e Conexa Saúde) -, a comunidade do interior do Acre, a mais de 500 km da capital Rio Branco, passou a contar com fornecimento de energia 24 horas por dia. Antes do projeto, as 200 famílias da região tinham luz apenas três horas por dia. Os moradores ficaram dois anos como beneficiários do projeto, antes de virarem clientes das empresas de energia. A motivação por trás do Projeto Ybá, outro exemplo em que as comunidades locais estão envolvidas, é gerar desenvolvimento via expansão dos usos socioambientais de área de floresta da Dow em Breu Branco, no Pará. A ideia é promover a geração de renda a partir do extrativismo de bioativos de interesse comercial. Um mapeamento feito para a região pelo Instituto Peabiru identificou na área 17 espécies vegetais de interesse comercial para a indústria cosmética e farmacêutica – que podem ser extraídas pelos comunitários das terras da empresa e comercializadas. A produção do primeiro produto em exploração, a andiroba, será comprada pela Natura, parceira também do programa. A previsão é que a iniciativa favoreça 150 famílias, que terão, em alguns anos, uma cooperativa estruturada para continuar com a comercialização das linhas de produção por conta própria. Saiba mais sobre o Estudo O “Estudo de Boas Práticas Empresariais na Amazônia” foi realizado pelo CEBDS em parceria com o Idesam. A publicação analisou 143 iniciativas desenvolvidas por associadas do CEBDS na Amazônia e detalhou 11 projetos que combinam produção e preservação. As ações envolvem mais de 30 parceiros na Amazônia Legal e beneficiam diretamente 50 mil pessoas. O trabalho inédito faz parte do Movimento Empresarial pela Amazônia, iniciativa liderada pelo CEBDS que visa construir uma agenda efetiva em defesa do desenvolvimento sustentável, da criação de emprego e renda com a floresta em pé e da redução do desmatamento. Confira o estudo na íntegra e conheça os bons exemplos do setor empresarial aqui. Texto publicado originalmente no Blog Sustentável do CEBDS
Nosso planeta é o único que tem Carnaval
Esta é uma época de grande manifestação popular, onde as pessoas vão para as ruas e extrapolam seus sentimentos e emoções. O Carnaval, além de ser um período de festa e confraternização, é uma época de conscientização e aprendizado. Além do entretenimento e da valorização à cultura, um evento da relevância do Carnaval deve ter uma função social. Por todo o Brasil, manifestações carnavalescas socioambientais se espalham gerando impacto positivo nos foliões e mostrando que é possível se divertir e salvar o planeta ao mesmo tempo. Até porque a Terra é o único planeta que temos – e se ela acabar o Carnaval também já era. Entre as diversas manifestações culturais realizadas na folia deste ano, separamos algumas que serão realizadas em localidades distintas do nosso país, que é tão rico ambiental quanto culturalmente. Carnaval de Impacto: conheça 5 iniciativas pelo Brasil Carnaval ESG – Salvador (BA) Em parceria com o Sistema B, que é uma certificadora internacional de ESG, a Secretaria Municipal de Sustentabilidade e Resiliência (Secis) vai visitar os camarotes do Carnaval de Salvador e pontuar de acordo com as ações socioambientais que eles estarão praticando durante a festa. ReciclaFolia – Vitória (ES) No Carnaval de Vitória, cada escola traz, além de muita alegria, adereços bem elaborados. Porém, quando o desfile acaba, entra em cena o pessoal da sustentabilidade. O projeto ReciclaFolia trabalha dando destino aos resíduos usados na festa. Economia Circular – Paraíba do Sul (SP) Apostando na sustentabilidade e na economia circular, a decoração do Carnaval 2023 em Paraíba do Sul será 100% proveniente do reaproveitamento de fantasias e adereços coletados nos desfiles das escolas de samba dos Grupos Série Ouro e Especial no Carnaval de 2022. Galo Sustentável – Recife (PE) O maior bloco do mundo, o famoso “Galo da Madrugada”, entrou nessa onda e terá algumas ações ambientais. Além de manter a estrutura do Galo (com mais de 27 metros) toda feita com materiais reaproveitáveis e recicláveis, o bloco também vai passar a fazer uma compensação de carbono. Confetes biodegradáveis – São Caetano (SP) O SESC São Caetano realiza uma proposta para a família que une ações ecológicas com o Carnaval. A ideia é uma oficina para que os participantes circulem pelo jardim do SESC em busca de folhas multicoloridas para a confecção de confetes sustentáveis. O que é Carnaval sustentável? Mesmo que você não se engaje em uma das atividades acima, ter responsabilidade socioambiental praticando atitudes mais conscientes já é uma forma de diminuir os impactos ambientais causados pelas celebrações da folia. Dica de leitura: O Carnaval das algas No Carnaval sustentável não é necessário poluir o meio ambiente com microplásticos para se divertir. Dá para usar o bioglitter, por exemplo, e outras alternativas mais ecológicas. Confira algumas ideias sustentáveis para o Carnaval: Use fantasias feitas a partir de materiais reciclados Faça confetes de folhas secas usando um furador de papel Prefira latinhas de alumínio às de vidro ou plástico Tenha uma sacola/mochila para guardar seus próprios resíduos Leve seu copo e canudo reutilizáveis Ô, ABRE ALAS, que o Bloco da Responsabilidade Socioambiental quer passar!
Apoiar o pequeno empreendedor é investimento social sustentável
Por Fabio Lesbaupin* Pequenos negócios foram responsáveis por cerca de 7 em cada 10 vagas de emprego no Brasil, em 2022. Nas comunidades de baixa renda, este impacto é ainda maior. É difícil imaginar um futuro próspero sem a força destes empreendedores. Mesmo assim, poucas iniciativas sociais são direcionadas para esta classe tão importante. Esse é justamente o centro do propósito do Estímulo – o maior fundo social de apoio ao pequeno empreendedor brasileiro. E agora também o mais novo membro da Comunidade CIVI-CO. Solução urgente que virou definitiva Precisou de uma pandemia para a sociedade perceber a importância dos pequenos negócios. No início de 2020, movidos pela necessidade urgente, grandes empreendedores como Abílio Diniz, Eugênio Mattar e Eduardo Mufarej se mobilizaram para a criação do Estímulo. Inspirados nos Fundos de Alívio, instituições e cidadãos uniram-se em prol dos pequenos empreendedores. Somos a união de pessoas conscientes que acreditam no poder do empreendedorismo de transformar a sociedade. O Estímulo oferece apoio financeiro e capacitação para que pequenos empreendedores superem as dificuldades e alcancem a prosperidade: já são quase 8 mil empresas e 90 mil pessoas beneficiadas. Inovamos ao transformar R$ 60 milhões de doações em crédito acessível para os empresários das regiões de baixa renda. Hoje já são mais de R$ 150 milhões em apoio financeiro. Movimento dono apoiando dono Descobrimos um modelo de investimento social sustentável que está unindo filantropos, empreendedores, empresários e investidores: com 2 anos de atuação, o Estímulo foi reconhecido pelo Prêmio Folha de Empreendedorismo Social e foi apontado pela revista Forbes como o futuro da filantropia e do investimento social. Nos transformamos em uma grande comunidade de apoio ao empreendedorismo. Já são mais de 300 doadores, investidores e parceiros trabalhando pelos quase 100 mil MPEs cadastrados. Quanto à capacitação, promovemos conhecimento através de cursos, mentorias, consultorias e benefícios dos nossos parceiros. Nossa missão é levar a ideia ou recurso certo na hora certa para acelerar a jornada de prosperidade. Abrindo portas para o futuro Neste ano de 2023, além do crédito e da capacitação, estamos apostando também nas conexões: vamos conectar nossos empreendedores entre si para que eles compartilhem desafios e soluções; vamos levar programas de mentoria especializados para transferir conhecimento de quem já chegou lá para quem está no caminho; e, por fim, vamos ativar a Conexão com Investidores. Queremos conectar a Faria Lima com o investimento de impacto através do empreendedorismo. Se você é empreendedor, cadastre-se no nosso site. Se você quer apoiar, doar, investir ou ser um parceiro, entre em contato: contato@estimulo2020.com. *Cofundador e diretor-executivo do Estímulo.