Toque de Midas: Japão transforma e-lixo em ouro

Toque de Midas: Japão transforma e-lixo em ouro

Os Jogos Olímpicos de Tóquio 2020, mesmo que controversos por conta da pandemia do Covid-19, são um exemplo de sustentabilidade. O país asiático é referência em associar desenvolvimento, tecnologia e práticas sustentáveis. Esse esforço se refletiu durante toda a competição e até o tão sonhado ouro olímpico ganhou uma simbologia especial, pois até pouco tempo era apenas e-lixo.

De acordo com a ONU, aproximadamente 53,6 milhões de toneladas de lixo eletrônico foram geradas no planeta em 2019. Tendo como base os últimos cinco anos, houve um aumento considerável de 21%. O relatório The Global E-waste Monitor 2020 também prevê que esses resíduos chegarão a 74 milhões nos próximos dez anos, quase o dobro do que está sendo produzido atualmente.

Por conta do avançado desenvolvimento tecnológico entre abril de 2017 e março de 2019, foram coletadas mais de 78 mil toneladas de lixo eletrônico no país-sede e aproximadamente 6 milhões de aparelhos quebrados ou antigos, segundo o Comitê Olímpico Internacional (COI).

Desse material, boa parte foi recuperada e reutilizada na produção de novos produtos, inclusive na produção das medalhas, símbolo dos jogos olímpicos. Por ser um arquipélago, os recursos naturais no Japão são limitados. Então, o ouro e a prata contidos em eletrônicos no país são extremamente valiosos.

Segundo informação do Nikkei Asian Review, somente em 2014 foram retirados de produtos descartados: 143 quilos de ouro; 1,5 tonelada de prata e 1,1 tonelada de cobre.

Economia Circular Japonesa

A reciclagem já faz parte da cultura japonesa. Produtos descartados não são tratados como resíduos e, sim, como recursos. A alta demanda de tecnologia empregada para a recuperação dos produtos descartados faz com que a população participe ativamente do processo.

“A falta de cultura para o descarte correto está associada ao pensamento de “meio ciclo” e ao desenvolvimento de produtos com foco somente na fase de uso. Não fazemos a associação da reciclagem como um processo de transformação de resíduos em novos materiais e novos produtos. É isso que o Japão está fazendo de forma brilhante: nos mostrando que com design, qualidade e performance, os resíduos podem ser transformados em belos produtos. E por isso não existe a percepção de descarte e nem de lixo!”, comentou Beatriz Luz, fundadora da Exchange 4 Change Brasil e do Hub de Economia Circular.

O Brasil não sobe no pódio

Líder na América Latina na produção de resíduos eletrônicos, o Brasil produz 1,5 toneladas de lixo por ano e somente 3% é descartado de maneira adequada com 2% de reaproveitamento.

O alto custo da coleta, as dificuldades operacionais na logística e o fato de que, atualmente, fazer a reciclagem desses equipamentos não garante nenhum tipo de incentivo fiscal para a indústria, são desafios para o país avançar nesse sentido.

Logística Reversa

A logística reversa, regulamentada pelo decreto federal 10.240, de 2020, estabelece que os consumidores só podem realizar descarte de resíduos eletrônicos em pontos específicos de recebimento. A recepção e armazenamento desses equipamentos deve ser feita pelo comerciante responsável por realizar o transporte dos eletroeletrônicos até o destino final ambientalmente adequado (reciclagem).

Essa operacionalização do sistema de logística reversa começou a funcionar em 1º de janeiro de 2021, com a habilitação de prestadores de serviço, confecção dos planos de comunicação e de educação ambiental e instalação de pontos de recebimento desses equipamentos. Instituições como a Associação Brasileira de Reciclagem de Eletrônicos e Eletrodomésticos (ABEE) e até empresas do setor privado já estão realizando essas atividades em cooperação com ecopontos, recicladores e catadores.

De acordo com a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), a responsabilidade pelo ciclo de vida dos produtos deve ser compartilhada. Com isso, empresas produtoras de tecnologia portátil de alta rotatividade devem apresentar programas e projetos para descarte correto dos eletroeletrônicos, visando a reciclagem e reutilização dos materiais que forem coletados pelas mesmas.

Qual a melhor forma de descartar seu e-lixo?

  • Guarde-o com você até ir a um centro de coleta da sua cidade;

  • No site da Associação Brasileira de Reciclagem de Eletrônicos e Eletrodomésticos (ABEE) existe uma plataforma que mostra pontos de coleta próximo de sua casa, acesse o link: http://abree.org.br/pontos-de-recebimento

  • Caso não tenha um centro de coleta na sua cidade, procure empresas que fabricam ou vendem estes produtos para que possam ser descartados;

  • Procure um centro universitário que acolha estes objetos para estudo ou para reutilização.