O Novo e o De Novo

O Novo e o De Novo

Por Carlos Beltrão* 

Sempre pensamos em nós como um povo que tem história, passado, ancestralidade… mas nunca como um que tem futuro. Afinal, ele nunca nos pertenceu. Antes, pelo fato de nascermos apenas para trabalhar, sofrer e morrer escravos; Depois, devido à estigmatização de uma abolição que conseguiu tornar a nossa liberdade (tão sonhada e desejada) em algo pior que a própria escravidão.

Mas eis que a mais recente mudança de gerações nos traz o alento de um horizonte não mais apenas distante e inalcançável. Ventos da mudança começam a soprar como brisa no rosto e podemos, talvez pela primeira vez em nossa existência, vislumbrar aquilo que não conhecemos.

Apesar de ainda não enxergarmos um modelo de país sendo gestado nos corredores do poder, já nos tornamos sensíveis às pegadas de um amanhã que se aproxima. É certo que ele ainda vem furtivo, talvez evitando chamar a atenção para si, receoso pelo risco de ser esmagado antes de ganhar corpo, de deixar de ser sonho.

Contudo, ele continua vindo (e isso é o que importa!), se aproximando e estabelecendo suas próprias marcas através da determinação dos jovens em não mais aceitar comportamentos tóxicos baseados em distinções de cor, raça, gênero, escolhas sexuais, idade, capacidade, peso e origem; ele se anuncia também nas pautas ESG adotadas pelas empresas como forma de atender à cartilha dos “donos do dinheiro”, como já havia sido feito antes, no fim do tráfico negreiro.

E, mesmo sabendo que não é por bom senso, empatia ou humanidade do lado corporativo, aceitamos seus frutos como se realmente nos fossem oferecidos de bom grado, como se não habitassem o mesmo quadrante da reparação que nunca veio, da compensação de uma exploração linear de pais, filhos, netos, bisnetos e tataranetos… como se viesse como justiça e não apenas como interesse e oportunidade para algum novo tipo de exploração.

Mas se quem nunca comeu doce, quando come se lambuza, imagine o tamanho da nossa comemoração quando a fresta de uma janela, que nunca se abriu, deixa entrar este raio de sol. O corpo já sente o calor mesmo antes dele alcançar a pele. A alma já se expande para preencher as lacunas que a exclusão, a criminalização e o medo (da ausência de futuro) ocupavam há séculos.

É claro que não estamos sentados aguardando que as barreiras se rompam… isso certamente não acontecerá, não em nosso tempo. Nossa mobilização agora assume os contornos de um hub de inovação… a inovação social que traz consigo o uso de tecnologias para identificar Ambientes Seguros para a diversidade; a capacitação de colaboradores e líderes para lidar com a inclusão no local de trabalho; e robôs de software para atender simultaneamente todas as denúncias e pedidos de assistência jurídica e apoio psicológico de que as vítimas do racismo diário carecem.

Assim, por meio da colaboração, da integração de times diversos e ferramentas de baixo código, nos desdobramos em milhares, estando prontos para atender milhões.

Hoje, somos a força de um programa que materializa o ideal de Mandela e o sonho de Martin Luther King Jr. na busca diária da convivência pacífica e respeitosa entre as pessoas, desconstruindo as bases do racismo em suas diversas formas de manifestação.

Como forma de assegurar isso, estruturamos o programa #RacismoZero – baseado em 3 pilares que operam como as políticas públicas de saúde – para eliminar a doença social conhecida como racismo: (i) promovendo a saúde através do Antirracismo; (ii) prevenindo a doença a partir de uma rede de Ambientes Seguros; e (iii) reabilitando o doente por meio da plataforma Acolhe, de atendimento gratuito às vítimas.

E, com isso, acreditamos ter encontrado uma maneira de romper com um passado que nos perseguiu por gerações. E de, finalmente, poder construir O NOVO e descartar o “de novo”. Para que ele não mais se repita.

Esse é o futuro que estamos construindo: desconhecido, cheio de diversidade e justiça social. Qual é a Pegada Social que você vai deixar neste mundo?

Participe do movimento 

*Head de Inovação da Universidade Zumbi dos Palmares e Coordenador Geral do programa #RacismoZero.