O ESG em tempos de Guerra

O ESG em tempos de Guerra

A guerra é uma das formas mais antigas de alavancar a economia de um país, enquanto pessoas morrem lutando nas trincheiras ou sendo vítimas inocentes. Muito dinheiro é movimentado de forma legal e ilegal. A guerra é um símbolo do velho capitalismo, fundado na exploração e no acúmulo. 

Novamente o mundo está em alerta. Os conflitos ocorridos pela invasão russa na Ucrânia se intensificaram e esse acontecimento passou a ser um dos mais importantes do século XXI. Resta saber como a chamada “nova economia” irá se comportar diante deste fato. 

A Nova Economia é uma expressão que define uma lógica de mercado diferente, que deixa de se concentrar em produtos para priorizar serviços. Ela se caracteriza com uma cultura centrada em pessoas, junto a impactos expressivos da tecnologia, mudanças velozes e colaboração.  

Esta guerra no leste europeu será uma prova de fogo para esta tendência, que inseriu parâmetros e métricas para o ambiente corporativo e econômico.  

Como os stakeholders vão reagir diante deste cenário? Será que continuarão lucrando com o terror da guerra ou irão se posicionar e propor soluções humanas e sustentáveis

ESG de Guerrilha 

“As empresas terão de tomar uma decisão. Essa é a epítome do ESG, que as empresas dizem ser a prioridade agora. Assim como as pessoas não queriam seu dinheiro investido na África do Sul durante o apartheid, você gostaria de vê-lo investido na Rússia durante a invasão brutal da Ucrânia?”, disse Fiona Hill, especialista em relações exteriores que estuda Vladimir Putin há mais de duas décadas e ex-funcionária do Conselho de Segurança Nacional dos EUA.

Os parâmetros ESG podem ser um balizador determinante neste cenário. As empresas que colaborarem e lucrarem diretamente com a chamada “indústria da guerra”, certamente irão sofrer duras sanções do mercado global, que já não aceita diversas práticas.     

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Quem ganha com a guerra? 

Apesar das notícias não serem muito boas, o cenário empresarial, principalmente a indústria petrolífera, tem se mostrado animador e vem pressionando a Rússia para cessar o fogo na Ucrânia. 

Os pronunciamentos feitos por companhias internacionais de petróleo, antes do conflito na Ucrânia completar uma semana, indicam que a guerra vai entrar na agenda ESG.

Para algumas empresas, já entrou. A primeira grande corporação a se mobilizar foi a BP (antiga British Petroleum), que anunciou a venda da sua participação de cerca de 20% na Rosneft, uma das estatais russas de gás natural.

Depois foi a vez da Shell, maior empresa de petróleo da Europa, trazer a público a decisão de encerrar suas joint-ventures com a Gazprom, maior produtora de gás do mundo. A norueguesa Equinor também vai deixar a Rússia.

Além de envolver reputação e cifras de bilhões de dólares, os anúncios dessas empresas atingem diretamente a exploração de combustíveis fósseis, responsável por mais de 40% das receitas do governo russo.

Antes mesmo de ordenar a invasão no país vizinho, a Rússia vinha fechando a torneira de seus gasodutos que passam, justamente, pela Ucrânia. Isso fez disparar o preço do gás e gerou uma crise energética na Europa, uma vez que a Rússia é responsável por um terço do gás utilizado pelos europeus.

Porém, essa é uma manobra arriscada, já que mais de dois terços da receita proveniente da venda de gás natural do país vem da Europa, de acordo com dados da Bloomberg. 

Corrida por energia sustentável 

A crise energética gerada pelas sanções russas tem pressionado as nações europeias a investirem em fontes renováveis. Com a alta do petróleo, como resultado da guerra, as fontes de energia solar e eólica tendem a ficar economicamente mais competitivas. 

Existe também uma necessidade dos países da Europa Ocidental de reduzir a dependência energética da Rússia. A meta da União Europeia é diminuir 55% das emissões de gases de efeito estufa até 2030 (em comparação com os níveis de 1990) e atingir a neutralidade de carbono em 2050.

O velho continente esbarra em condições climáticas para conseguir sua independência dos combustíveis fósseis. Mesmo sem o gás russo, a combustão continua sendo a principal fonte energética da Europa. 

As importações de carvão do continente aumentaram 56% em janeiro, em relação ao mesmo mês de 2021. As termelétricas europeias estão estocando o mais sujo dos combustíveis fósseis dada a incerteza em relação ao fornecimento de gás russo.

Contudo, algumas medidas estão sendo tomadas no sentido de “limpar” o consumo energético europeu: 

  • Alemanha 

Na Alemanha, uma das novas fontes energéticas prioritárias é o hidrogênio verde. O país anunciou, em dezembro passado, um programa para garantir encomendas e viabilizar a instalação de plantas de produção pelo mundo. O plano prevê investimentos de 900 milhões de euros, com contratos de fornecimento de dez anos.

  • Inglaterra

Já a Inglaterra irá apostar na energia que vem do deserto. Isso mesmo, a Xlinks está montando uma das maiores usinas renováveis do mundo no Marrocos, norte da África.

Com uma área total de 1.500 quilômetros quadrados, a planta de painéis solares e cataventos ficará numa área desértica do sul do país. A eletricidade gerada pelos painéis fotovoltaicos será transmitida para a ilha por um par de cabos de 3.800 quilômetros, submersos no Atlântico Norte.

Esforços em vão 

Especialistas afirmam que  mesmo com a guerra provocando a aceleração do processo de adesão à energia limpa, a meta anunciada na Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas em 2021 (COP26), de atingir a chamada ‘neutralidade de carbono’ até 2050, não será alcançada.

“Atualmente, o mundo não está em linha com a meta de atingir neutralidade de emissões até 2050. Muitos países ainda não estão alinhados a esta meta, incluindo China, maior emissor do mundo, com meta de neutralidade em 2060, Austrália (2060) e Índia (2070)”, pontuou Rodrigo Sauaia, presidente da Absolar.

Os interesses de algumas nações ainda são obscuros e não sabemos como cada uma vai se comportar caso a guerra ganhe proporções maiores. 

A redução de carbono deve ser um esforço global, onde todos os egos e interesses financeiros e políticos precisam ser deixados de lado em prol da existência humana e da biodiversidade.