Entrevista com Xan Ravelli

Entrevista com Xan Ravelli

por Trace Brasil

A potência e criatividade negra é um expoente de transformação para a sociedade. No contexto audiovisual, como você enxerga os desafios atuais de produzir conteúdos com pautas étnicos-raciais?

Em um país como o Brasil, que tem sua história contada por uma população branca há 500 anos, sempre esperamos uma história de exploração tendo seus abusadores como heróis. Precisamos subverter esse olhar e passar essa narrativa para o corpo preto. Não é só sobre o caráter de produção, mas também sobre o caráter de consumo, de ter uma galera consumindo conteúdos produzidos, pensados e idealizados por pessoas pretas.

O grande desafio agora é realmente romper as fronteiras e deixar esse conteúdo mais atrativo e de qualidade para poder atingir o máximo de pessoas pretas que a gente conseguir. As pessoas querem se enxergar e quando você tem um produto de qualidade, com narrativas que muitas vezes trazem a nossa figura com naturalidade, é muito legal você ter a população se identificando com isso, absorvendo e consumindo cada vez mais.

Qual a importância das criação de ações afirmativas no mercado da Comunicação para viabilizar projetos de alto impacto?

Criar um material audiovisual de qualidade não é barato e o mercado não pede menos que isso para dar visibilidade. Quando você viabiliza projetos de alto impacto é muito importante para poder dar espaço para grandes artistas que estão escondidos por falta de oportunidades. Temos muitos artistas assim no Brasil e as periferias do nosso país são muito ricas em criatividade.

Existem muitas iniciativas lideradas por mulheres negras no Brasil, gerando impacto e resistindo às opressões estruturais. Mesmo com dificuldade de ocupar determinados lugares, como o empreendedorismo feminino tem se fortalecido nos últimos tempos? 

O empreendedorismo feminino é intrínseco às mulheres pretas. Iniciamos com o empreendedorismo nesse país com as nossas ancestrais, mulheres que compravam a alforria de homens pretos e a sua própria liberdade. Depois da abolição, algumas foram cozinhar, cuidar de famílias e empreender – não porque quiseram. É muito importante salientar que nós vamos para o empreendedorismo por necessidade.

Lutamos para ganhar mais em um mercado de trabalho que muitas vezes não dá abertura para nossa inteligência, intelectualidade e prospecção de carreira. Um mercado que ainda é centrado na figura do homem branco. Também precisamos falar das mães pretas em especial, porque é um grupo que para mim é muito caro, pois faço parte dele, e que ocupa menos espaço em todos os lugares. Além de desenvolver nossas carreiras, temos que cuidar do nosso principal ofício: ser mãe. Agora queremos fazer os nossos próprios caminhos não apenas para ter o suficiente para sobreviver, mas para viver bem.

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