04 maio Diversidade: só um tema bonito ou imprescindível?
Por Janine Rodrigues
Para a primeira edição da CIVI-CO Mag, da qual aceitei alegremente o convite para ser a editora dos conteúdos de Educação, quero compartilhar um tema sobre o qual estudo formalmente desde 2009, mas que vivencio desde que nasci.
Estou falando sobre a tão aclamada diversidade, que passou de ignorada pela sociedade a queridinha de marcas, empresas e escolas nos últimos anos. Algo incrível e benéfico, se a reconhecermos como essencial e não como modinha.
Passei a maior parte da infância numa cidadezinha do interior do Rio de Janeiro chamada Cardoso Moreira. Minha família era muito querida na cidade. Eu estudava numa escola particular. No meu bairro e na igreja que frequentava havia crianças de escolas públicas. Minha irmã mais velha morava na Capital e de tempos em tempos íamos visitá-la.
Minha mãe nunca me proibiu de brincar com meninos. De ter amizade com pessoas de religiões diferentes. Tínhamos uma situação econômica simples. Tínhamos amigos em situação econômica inferior e bem superior à nossa.
Sempre adorei filmes. Minha mãe não (ela sempre dorme no meio ou muda de canal). Eu cantava maculelê na escola e em casa cantigas de roda, músicas da igreja e pop nacional. Em Cardoso, brincava de pé no chão, subia em árvores, andava de bicicleta e assistia teatro a céu aberto na praça principal.
Na Capital, adorava visitar museus e pensar como eram aqueles tempos retratados pelas exposições. Ia à praia. Adorava fast food. E sei lá por que um dos meus sonhos era ter uma calculadora.
Naquela época eu não pensava diretamente sobre a diversidade, mas hoje, vejo como ela sempre esteve presente em todas as áreas da minha vida.
A diversidade pode ser estética, cultural, religiosa, social, econômica. Mas além disso tudo, a diversidade está no detalhe. Dentro de sua casa. Entre você e sua família já existe muita diversidade se você pensar em ideais, opiniões, gostos, crenças…
Ignorar a diversidade é impossibilitar a equidade. Ou ela é respeitada, e daí é possível uma boa convivência, ou estaremos sempre limitados. É válido dominar um assunto e não ter empatia? É inteligente ter na equipe um profissional que é um magnífico técnico, mas que não sabe conviver e gera um ambiente tóxico para os demais? Faz sentido uma escola com ótima infraestrutura, mas sem vínculos de afeto com a comunidade escolar?
Quando a UNESCO nos ensina seus 4 C’s (conviver, criticar, comunicar e criar), podemos analisar: é possível desenvolver tais habilidades sem valorizar e reconhecer a diversidade que existe entre nós? Somos o que somos também por influência do meio em que vivemos. Convivemos.
E você, já parou para pensar que não há diferença sem referência? A diversidade é isso. Se há uma crença de que uma etnia, uma cultura, uma estética, um saber são as referências, então, de fato falaremos em diferença.
A questão é que, em se tratando da humanidade, da natureza, não há referência única e sim saberes diversos. O conhecimento de quem lida com a língua é mais importante do que aquele que lida com números? É desprovido de saber aquele que não fala e escreve seguindo a norma ”culta” da língua?
Não vamos romantizar a precarização da Educação, mas, uma pessoa que não fala ou não escreve segundo a ”norma culta” da língua, deve ter todo seu conhecimento invalidado?
Quantas vezes em projetos ouvimos a expressão: “este trabalho levou cultura, levou educação”. Esta não seria uma forma de dizer que não existia nada ali? Se você reconhece que há sim conhecimento ali, diria: Este projeto contribuiu para, ampliou, aumentou, fomentou…
Eu não respeito a sua diferença. Eu respeito a sua diferença de mim e você respeita a minha diferença de você, visto que não somos referência única sobre coisa alguma. Somos diversos.
Respeitar a diversidade, reconhecer seu valor é acreditar e exercer a educação verdadeira, baseada no respeito, no afeto, no que há de mais humano em nós.
Até o próximo papo!
*Janine Rodrigues é educadora, escritora, especialista em diversidade e fundadora da Piraporiando.