Como ser sustentável na crise hídrica

Como ser sustentável na crise hídrica

A água, além de ser a fonte da vida, nos ensina diversas lições. Observar a força e fluidez deste elemento mostra como devemos agir em momentos de crise. Saber se adaptar é essencial, e assim devemos agir nesta grande crise hídrica que o país enfrenta. 

Novas ideias são bem-vindas, como a adoção de hábitos e práticas sustentáveis. Esse estilo de vida deve ser adotado junto às políticas públicas, não só em momentos críticos. Temos que ter consciência de que a água é um bem precioso e esgotável.  

“Políticas públicas de regeneração e compensação devem ser repensadas imediatamente se quisermos contribuir para a re-estabilização de nossos ciclos da água e infelizmente, não há tecnologias acessíveis no momento para a redução do consumo de água no agronegócio, se não reduzirmos também o consumo de carnes vermelhas”, comentou Felipe Gregório, arquiteto e fundador da Florescer Brasil.  

Preocupados com a situação e focados em soluções, diversos empreendedores sociais decidiram repensar as relações de produção e consumo associados à utilização consciente da água. 

A utilização da água no ambiente doméstico, por exemplo, é apenas a ponta do iceberg. O setor produtivo é o principal vilão dessa causa, tanto no consumo do líquido quanto no consumo de energia – que em nosso país é sustentado pelas hidrelétricas. 

“Uma das principais ações para combate à crise hídrica é o estabelecimento de políticas e ações para aumento da eficiência no uso da água no contexto da irrigação e da agricultura, atualmente principais responsáveis pelo consumo de água captada no país. Além disso, é necessário enfrentar o enorme desperdício pelo setor de abastecimento, que hoje está na faixa de 39%”, informou Renata Moraes, economista e diretora do Instituto Iguá. 

Segundo dados do Ministério do Meio Ambiente, a indústria é responsável por cerca de 22% do consumo do líquido, enquanto a agricultura utiliza a maior parte do recurso: 70% da água do planeta é destinada à irrigação.

“Nossa economia é dependente do Agro, isso não podemos negar. Infelizmente os impactos do setor no meio ambiente são evidentes. O avanço do setor nos últimos anos impacta diretamente no potencial hídrico do país, uma vez que mais pastagens significam menos coberturas florestais, responsáveis diretas pelos ciclos da água e pelo controle e manutenção da temperatura”, explicou Felipe. 

Boas iniciativas 

Algumas empresas estão se adaptando a este cenário. É preciso entender que investimentos em novas tecnologias e modelos de produção sustentáveis também são necessários e rentáveis. No final das contas, o verdadeiro lucro é a preservação do planeta.   

 

O restaurante Divino Fogão, por exemplo, recomenda que os franqueados utilizem torneiras de pedais e apenas inaugurem lojas que contam com esse tipo de peça. Além disso, também indicam redutores de vazão de água em todas as torneiras.

“Reunindo a torneira com pedal e o redutor de vazão conseguimos ter uma economia no consumo de água entre 35% e 40% por mês”, destaca o diretor de operações Emiliano Silva. 

A Yakult conta com um processo inovador quando o assunto é economia de água. Desde 2015, a empresa utiliza 33 tanques que compõem a Estação de Tratamento de Efluentes (ETE). Eles possuem duas caixas de separação de material sólido e 15 unidades de purificação que  permitem o tratamento biológico e a remoção de cerca de 99% da carga orgânica. 

“Com capacidade de tratamento de 1,2 mil metros cúbicos por dia, o que corresponde a 1/3 da capacidade dos três poços artesianos que atendem à fábrica, a ETE possibilita à Yakult uma economia aproximada de 15% no consumo de energia elétrica”, disse o presidente da Yakult do Brasil, Atsushi Nemoto. 

Já a empresa Agropalma adotou o reuso como estratégia sustentável. Na unidade de Tailândia (PA), o processo produtivo aproveita a mesma água em fases diferentes do processo de extração de óleo. Como exemplo, a água da fase de secagem volta para a fase de prensagem. 

“Substituímos a clarificação estática pela clarificação dinâmica, gerando uma redução de 60% no consumo de água, nesta etapa”, informou Helene Marcelle, gerente de responsabilidade socioambiental da marca. 

No segmento social podemos citar o projeto AMA da cervejaria AMBEV, que reverte totalmente os lucros da venda de água mineral em iniciativas para democratizar o acesso à água potável em algumas regiões brasileiras. 

 

A AMA nasceu em 2015, quando o time de sustentabilidade da Ambev deu início à busca por um novo projeto para expandir seus programas de preservação e uso consciente de água. Com esse produto, a cervejaria contribui para o sexto Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU. 

“Essa é uma inovação única no mercado brasileiro porque, quando alguém compra uma garrafa de AMA, 100% do lucro vai para projetos que ajudam quem mais precisa de água”, destacou Bernardo Paiva, presidente da Ambev.

Realidade brasileira 

O Brasil possui a maior fonte de água potável do mundo: 12% do total existente no planeta está no nosso país. É mais que todo o continente europeu ou africano, por exemplo, que detêm 7% e 10%, respectivamente.

Mesmo assim, quase 35 milhões de brasileiros não têm acesso à água potável e cerca de 100 milhões não têm esgoto tratado. Desses, 5 milhões e meio estão nas 100 maiores cidades brasileiras, o equivalente à população da Noruega. Esses dados estão no ranking de saneamento apresentado pelo Instituto Trata Brasil

“Parece difícil acreditar, mas a região amazônica é uma das mais debilitadas em relação à qualidade da água, mesmo estando em meio à um dos maiores rios do mundo (resultado de nossas políticas públicas inoperantes e ineficientes). Só no estado do Amazonas, quase 100 mil são internadas anualmente por conta de diarreia aguda em decorrência do consumo de água imprópria”, destacou Gregório.

A Florescer Brasil estima que mais de 70 milhões de pessoas no país não possuem acesso à água potável. Segundo o governo brasileiro, os dados são de 35 milhões, porém estes números não consideram as áreas vulneráveis abastecidas pelas companhias de água apenas uma vez por semana.

Novos horizontes

Assim, como em todos os aspectos socioeconômicos do nosso país, a desigualdade também se encontra no acesso à água potável. Políticas públicas são essenciais para esse processo de democratização e a sociedade civil pode ser uma aliada nessa luta. 

Empreendimentos sociais como o Instituto Iguá e a Florescer Brasil são exemplos de iniciativas que desenvolvem pesquisas, projetos e tecnologias voltadas para a causa hídrica. 

https://tv.uol/18pLa  

Inclusive, a Florescer Brasil foi vencedora do Prêmio Empreendedor Social da Folha em 2020, na categoria “Mitigação de Impactos”. A empresa instalou 286 lavatórios públicos (feitos de tambores) em comunidades vulneráveis, que levaram água limpa para 650 mil pessoas. Uma medida barata e eficaz de prevenção da Covid-19.

“Como empresa social, nossos projetos destinam todo seu lucro para ações de acesso à água no país. Empresas que queiram atuar com responsabilidade socioambiental investem em projetos de exposição de mídia, por exemplo. Ao mesmo tempo, contribuem efetivamente para que pessoas ribeirinhas da Amazônia tenham acesso à água potável. Atualmente contamos com projetos de acesso à água em mais da metade dos estados brasileiros”, pontuou o fundador da Florescer. 

Faça sua parte 

Boas ideias devem ser compartilhadas e replicadas. Para conseguirmos sair dessa situação todos devemos contribuir. Independente do grau de responsabilidade e consumo, podemos criar o hábito de preservação da água no nosso dia-a-dia. 

“A conscientização da sociedade sobre o uso racional e consciente da água, assim como uma visão focada na Segurança Hídrica e um conjunto de ações integradas para a gestão e governança dos recursos hídricos e para a implementação das políticas de preservação ambiental, são medidas igualmente necessárias para que possamos enfrentar, com responsabilidade e senso de urgência, o período de escassez que se aproxima”, salientou Renata Moraes. 

Também cabe a nós, como cidadãos, cobrar dos governantes a implementação de melhores políticas de gestão e democratização da água. Por fim, lembrarmos sempre de priorizar o consumo consciente e seletivo de produtos e serviços que possuem uma política sustentável quanto a utilização do líquido.

As empresas, mais do que nunca, também devem se atentar às boas práticas do uso consciente da água. Confira algumas medidas sustentáveis para utilizar no ambiente corporativo:

  • Evite substituir aparelhos eletrônicos desnecessariamente;
  • Elimine vazamentos;
  • Faça a captação e o aproveitamento da água da chuva;
  • Dê preferência a equipamentos que reduzam o consumo de água;
  • Não deixe aparelhos eletroeletrônicos em stand by. Desligue os equipamentos e aparelhos da tomada;
  • Instale painéis fotovoltaicos (painéis de energia solar). Energia solar é muito mais econômica;
  • Mantenha as fiações elétricas em bom estado;
  • Substitua lâmpadas incandescentes por lâmpadas econômicas fluorescentes;
  • Economize água na manutenção do jardim;
  • Use aparelhos elétricos fora do horário de pico (das 18h às 21h).