A transformação que vem das favelas

A transformação que vem das favelas

Por Gilson Rodrigues*

Há pouco mais de dois anos, tomei a decisão de encarar a chegada da Covid19, tudo parecia incerto, mas não podia deixar de enxergar aqueles dois “Brasis” acontecendo bem debaixo do meu nariz.

A divisão na sociedade ficou muito mais acentuada com a chegada do vírus. Enquanto um grupo fazia home office, com total segurança e direitos garantidos,  outro, nas favelas, foi deixado à própria sorte, sem água, sem emprego, sem comida, sem dignidade, vivendo aglomerados com famílias numerosas.

Diante da situação, um grupo de líderes que forma o  G10 Favelas, junto a muitos moradores que se voluntariam para atender famílias em situação de vulnerabilidade, decidiram escrever a própria história. Convocamos um verdadeiro exército do bem, que batizamos por Presidentes de Rua, que atuaram e ainda atuam nas ruas das Favelas, e deram início a uma gigantesca rede de operação, solidariedade e cooperação no Combate à Fome.

Do morro para o mundo

Ficou estabelecido o “Nós por Nós”,  que deu início a uma série de iniciativas humanitárias. Por falta de políticas públicas nas favelas, criamos nossas próprias para não deixar o nosso povo perecer. As ações foram desde a distribuição de cestas básicas e kits de higiene e limpeza, a entrega de marmitas às pessoas em maior vulnerabilidade social, que, por conta do desemprego, recebem as marmitas até hoje.

A operação das Marmitas Solidárias entrou para a história de Paraisópolis e funciona, até hoje, com a boa vontade e expertise de duas mulheres empreendedoras donas do negócio de impacto social, “Mãos de Maria”, e conta com a generosidade de amigos, parceiros e patrocinadores. Até agora foram distribuídas mais de 2.265.600 marmitas em todo o Brasil.

Na área da saúde, contratamos ambulâncias e idealizamos as casas de acolhimento, que receberam 487 moradores contaminados para a segurança das suas famílias, que não tinham a menor condição de fazer o recomendado distanciamento social em suas casas pequenas e com um número grande de moradores.

Outro negócio de impacto criado por mulheres, muito importante nessa luta contra a Covid-19, foi a Costurando Sonhos Brasil, que confeccionou e doou mais de 1.786.669 máscaras desde o início da pandemia.

Já o  Emprega Comunidades, conhecido como o “LinkedIn das favelas”, garantiu uma renda para as domésticas de Paraisópolis e outras comunidades do país, garantindo um período em casa. Foram assistidas mais de 2.000 (duas mil)  mulheres no início da pandemia.

Tem dinheiro na favela

Com a retomada econômica, as favelas não poderiam ficar de fora. Com todo aprendizado que tivemos nesse período difícil de pandemia construímos novos negócios para atender demandas que foram surgindo.

No olho do furacão, criamos a Favela Brasil Xpress, uma startup voltada para logística que, de forma humana, sensível e com muito estudo, liberou os CEPs dos moradores, colocando de vez, as favelas no mapa do e-commerce nacional. Com apenas um ano de funcionamento, já é considerada um possível unicórnio no mercado financeiro.

Para fortalecer esses novos negócios e muitos outros que surgirão, criamos  a Bolsa de Valores das Favelas, o G10 Hub – Acelerador de negócios e o G10 Bank. Tudo pensado e inaugurado durante a pandemia. Enxergamos no momento de crise, oportunidades para nos reerguer, nós assumimos o protagonismo da situação e mostramos ao mundo que somos agentes da nossa própria transformação.

Juntos, nós do G10 Favelas, e todos que nos ajudaram doando e compartilhando nossas ações humanitárias, chegamos a vários estados do país, como São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Minas Gerais, Pará, Pernambuco, Amazonas, Maranhão, Piauí, Paraná, Rio Grande do Norte, além do Distrito Federal.  Abraçamos mais de 350 favelas e vamos levar essas iniciativas para muitos outros lugares.

*Empreendedor social e presidente do G10 Favelas.