Protagonismo antirracista no 4º Cannabis Thinking

Protagonismo antirracista no 4º Cannabis Thinking

As vozes das pessoas negras foram o legado mais importante da quarta edição do Cannabis Thinking. As mesas e painéis dialogando com a proposta de tornar acessível os impactos socioambientais gerados pela cannabis trouxeram a diversidade necessária para se repensar e questionar a guerra às drogas, que mata e encarcera muitos jovens negros.

As falas potentes chamaram a atenção para o caráter racista existente no proibicionismo da cannabis e apontaram, principalmente, para um futuro onde as pessoas pretas sejam incluídas e protagonistas nesse cenário de uma possível legalização, podendo ter acesso aos produtos e também empreender neste segmento.

Mesmo existindo uma forte ligação na disseminação da cannabis pelo mundo, as pessoas pretas ainda sofrem com as consequências do proibicionismo. O ecossistema de negócios de cannabis ainda possui poucos negros envolvidos e em posição de liderança, estando fora até mesmo da cadeia de consumo, já que os produtos ainda são muito caros e inacessíveis para a população brasileira.

“Temos avançado muito na luta contra o racismo e a desigualdade racial e não podemos deixar que essas injustiças contra jovens negros continuem acontecendo. Acredito que as regulações para o cultivo da cannabis podem gerar emprego e renda para a população negra que sofre com criminalização das periferias”pontuou José Vicente, Reitor da Universidade Zumbi dos Palmares.

educação também foi um fio condutor destes encontros, pois é necessário repensar e utilizar a ciência e o conhecimento para desmistificar o preconceito e racismo existente em torno da cannabis. Por isso, a presença de educadores foi essencial nesta edição, que contou com nomes como o Reitor José Vicente, a pesquisadora Simone Eduardo e a educadora Janine Rodrigues, fundadora da Piraporiando.

Vivência

“Quando se fala de acesso no Brasil a gente ainda está falando em privilégios. Temos poucas pessoas com esse privilégio do acesso”, Janine Rodrigues.

Membro da nossa Comunidade e coordenadora do Hub de Educação do CIVI-CO, Janine mediou um painel com a presença de Marcelo D2, músico, ativista e empreendedor da cannabis, que compartilhou sua  vivência e sobrevivência em uma sociedade preconceituosa.

“Falo como jovem favelado que  sentiu na pele as dores da ilegalidade e  montou uma banda para falar sobre isso  e, na época, não sabia onde eu estava me metendo.  Nunca pensei estar aqui hoje debatendo esse assunto. Mais do que um defensor  ou ativista eu sempre me coloquei no papel de usuário e é muito interessante ver o quanto a gente avançou”, comentou D2.

Judiciário

O evento também foi um solo fértil para demandas legislativas e judiciais, com a presença de grandes figuras políticas e advogados, mostrando como essa luta da descriminalização da cannabis deve acontecer em múltiplas frentes.

“A palavra maconha ainda tem essa carga ideológica, em um país extremamente conservador onde não se abre para  discussão. Nas esferas do poder também há essa limitação. Não vemos no poder legislativo esse debate, não vemos o poder judiciário uma disposição para vencer esse preconceito”, ressaltou o Rogerio Schietti, ministro do Superior Tribunal de Justiça.

Função social e acesso 

A parceria do Cannabis Thinking com a Universidade Zumbi dos Palmares rendeu duas grandes inovações e ferramentas para o combate ao racismo na nossa sociedade, utilizando o potencial mercado natural para seguir as metas de sustentabilidade corporativa, atualmente representadas pela sigla ESG (Environmental, Social and Governance).

A Universidade falou sobre alguns projetos que já estão em prática. O primeiro deles é o programa Racismo Zero, ferramenta de combate do racismo através da educação. O segundo é a plataforma Acolhe, que busca identificar e ajudar as vítimas do racismo, inclusive com um projeto de utilização dos benefícios da cannabis para auxiliar nos traumas de vítimas de preconceito racial.

O legado da quarta edição do Cannabis Thinking vai ecoar pela história, pois olhamos para o passado, buscando não repetir os erros e assim construir, juntos, soluções para um futuro transformador, mais inclusivo e com acesso à direitos iguais para todos e todas.