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O Bem Viver é de onde nós partimos

Por Iara Vicente* De nossas artérias, nossas raízes”, foi uma instalação de arte que vi pintada nas raízes de uma árvore majestosa na Universidade de Brasília há quase dez anos atrás. Essa mensagem segue comigo até hoje, e explica de forma simples a sustentabilidade na minha vida. Meu caminho profissional me levou a outra forma de encarar essa forma de existir perante a natureza, entre mundo humano e o mundo não humano, entre o aye e o orun. Esta forma mais convencional, cheia de dados e gráficos, de desejos científicos para evitar o fim do mundo e as mudanças irreversíveis do clima, para mim é apenas a superfície do que a sustentabilidade realmente significa enquanto modo de vida. Claro, não morrer, enquanto planeta, também é uma luta por um modo de vida – qualquer um que seja, e todos, ao mesmo tempo. Viver pra lutar mais um dia também é vida, mas a opção radical pela existência junto à natureza é bem mais profunda. Fala de outros ritmos de vida, outros pontos de vista e outras noções sobre o que vale a pena se viver e do que se vale cuidar. É, sobretudo, de natureza ancestral das comunidades originárias do Sul Global, de todos os continentes, e no caso do Brasil, especialmente da África e Américas como existiram antes da colonização. O conceito de bem-viver foi popularizado, para além de suas comunidades originais e as redes de debate/ação política que as cercam, principalmente em sua formulação Qéchua. Mas a verdade é que o bem-viver é um conceito que representa questões caras aos diversos povos indígenas, quilombolas, seringueiros, extrativistas, colonos, ribeirinhos, quebradeiras de coco de babaçu e todas as demais populações tradicionais da América Latina. A origem da experiência prática deste conceito, no entanto, sempre está, de forma mais nítida ou mais sutil, ligada a estes reservatórios de saber ancestral e coletivos. Há a tradicionalidade que não exigiu reencontros – a experiência dos povos indígenas brasileiros, latino-americanos e africanos. Há também as tradições que se ocupam por nutrir, retornar, recriar, cultivar, aprender e reaprender valores herdados ou compartilhados por estes legados ancestrais africanos e indígenas. Compreender a herança é algo relativamente intuitivo. Logo se vê que estamos falando de povos da floresta, mangue, caatinga (e outros biomas), que nunca se afastaram completamente destes conhecimentos, da sua relação com o meio ambiente, e com o que se entende por viver bem – bem-viver – do modo tradicional. Povos que conseguiram se aquilombar, todas as nações indígenas, populações ribeirinhas e pescadores artesanais são bons exemplos desta relação com a tradição. São povos que carregam nas suas histórias de resistência a conexão com virtudes compartilhadas por gerações a perder de vista. Porém, o bem-viver ecoa também nas populações que se reconciliaram com a floresta, que encontraram outras formas de viver, ser e sonhar. É o caso dos seringueiros, trabalhadores explorados em situação de escravidão moderna que, não sem conflitos…” Leia o texto completo: https://afrolatinas.com.br/instituto-afrolatinas/publicacoes/ Texto originalmente publicado no site Afrolatinas. Fundadora da Nossa Terra Firme.*

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