O Cânhamo ainda é uma planta proibida no Brasil, mas ganhou notoriedade nos últimos dias após matéria veiculada no “Jornal Nacional” (Rede Globo). Da mesma espécie da maconha, a cannabis sativa tem uma composição química diferente e não possui efeitos entorpecentes, segundo especialistas.
Toda essa curiosidade sobre a “prima da maconha” se deu após a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) buscar permissão para estudar o plantio e o comportamento da planta no Brasil. O interesse justifica-se pelo potencial de aproveitamento do cânhamo, o que pode gerar um impacto positivo em várias áreas da economia do nosso país.
Entretanto, essa não foi a primeira vez que um grupo tentou uma autorização para estudar e trabalhar com a mesma. Em 2019, alguns produtores de São Paulo e Minas Gerais conseguiram uma autorização judicial para produzir o cânhamo industrial, mas a Anvisa derrubou a liminar pouco tempo depois.
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Lucro e sustentabilidade
A espécie, além de ser super sustentável, atrai os olhos de empresários que querem lucrar cada vez mais. Depois que os Estados Unidos regulamentaram o cultivo de cânhamo, outros 60 países começaram a se mobilizar para a prática. Atualmente, na América Latina, apenas Brasil, Bolívia e Venezuela não permitem o cultivo da planta.
O agrônomo Lorenzo Rolim, que coordenou todo o processo de regulamentação no Paraguai, que é o maior produtor latino-americano, conta que existe um sistema rígido de controle, por parte do governo, que vai desde a importação da semente até a lavoura.
“Nós colocávamos uma geolocalização do terreno. Eles aprovavam esse plano, a gente plantava, os técnicos do Ministério da Agricultura iam lá, olhavam, colocavam plaquinhas lá, esse campo já foi inspecionado pelo Ministério da Agricultura.”
O cânhamo é 100% aproveitável. Do caule, se retira a fibra, já as flores se transformam em extratos para cosméticos e óleos medicinais. As sementes são aproveitadas na indústria de alimentos e de ração animal. A planta ainda ajuda na regeneração do solo, o que é super valorizado pela indústria do agronegócio.
Nas etiquetas das roupas
Que a sustentabilidade está em alta e veio para ficar, isso não é novidade para ninguém. Ditando tendências, a indústria da moda não perdeu tempo e já inseriu as roupas de cânhamo na passarela. O número de empresas da indústria têxtil que informam e certificam a origem e as práticas sustentáveis de fabricação está crescendo a cada dia.
Segundo Everton Dechen, coordenador de Desenvolvimento de Produtos da Capricórnio Têxtil, a menos de três meses a produção incorporou as fibras de cânhamo em sua confecção. Com um fio super resistente, combinado ao algodão, hoje os jeans produzidos pela tecelagem no interior de São Paulo têm 23% de cânhamo na sua composição.
O jeans produzido com essa composição ainda representa uma parcela bem pequena da produção, isso porque o mercado ainda é novo e o acesso à matéria-prima é restrito. Porém, como afirma o presidente do Instituto Ficus, Bruno Pegoraro, o futuro do cânhamo é muito promissor.
“A gente tem a expectativa que até 2027 esse mercado seja de US$ 18,6 bilhões no mundo todo. É um país com vocação agrícola, e eu acho que a gente não pode ficar de fora do mercado em expansão com grande potencial.”
Futuro brasileiro incerto
No Brasil, atualmente só é possível fabricar peças com esse tecido se a empresa importar o fio. Esta dificuldade existe, pois a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) lista a cannabis sativa como uma planta que pode originar substâncias entorpecentes e não distingue o que é o cânhamo.
A Anvisa informou, em nota, que esse estudo e a regulamentação da planta não se encontram nos temas que compõem a agenda regulatória da Agência para 2024 e 2025.
Com tantos desafios em um país onde esse tema ainda é um tabu, fica difícil acreditar em um futuro promissor. Porém, a Embrapa e outros tantos aliados estão lutando por um futuro mais sustentável no Brasil através da regulamentação da indústria do cânhamo.
Fonte: G1